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Missa em Salvador, pelo centenário de Mãe Cleusa vai reunir familiares e filhos de Santo do Gantois

 

 

Uma missa na Igreja da Vitória, em Salvador, dia 26 de dezembro, as 10 hs, vai reunir familiares e filhos de Santo do Gantois, para celebrar o centenário (se viva estivesse) de Mãe Cleusa, do Gantois.

 

Em 25 de dezembro deste ano, Cleusa Millet, mais conhecida na Bahia e no Brasil, como Mãe Cleusa estaria completando seu centenário de vida.

 

Herdeira e filha mais velha de Mãe Menininha do Gantois, Mãe Cleusa comandou um dos terreiros mais importantes do país, de 1989 até 1998, com mãos de ferro, seriedade e acolhimento não só aos filhos e filhas feitosiniciados no terreiro, como a comunidade do bairro Alto da Federação, onde está erguido o Gantois. Sua fama correu o mundo, com matéria até no jornal The New York Times.

 

 

 


Biografia

Cleusa Millet nasceu no centro, Salvador-BA em 25 de dezembro de 1923, filha do casamento de Maria Escolástica da Conceição Nazareth (Mãe Menininha) e seu esposo, Álvaro Mac Dowell de Oliveira. Iniciou os estudos na Escola N.Sra. de Lourdes, em seguida Colégio Sacramentinas, todos em Salvador, sempre com louvor e excelentes notas. Formou-se em obstetrícia em 1946 pela Faculdade de Medicina da Bahia.

 

Com o instinto empreendedor, Cleusa se muda para o Rio de Janeiro, em 1947 foi para o Rio de Janeiro e assume cargo na Caixa Econômica Federal. Retorna a Salvador, em 1948, por ocasião do falecimento do seu pai. Depois, volta para o Rio de Janeiro, em 1950, onde se forma em enfermagem e vai trabalhar no JASERG – Hospital Maternidade dos Servidores da Prefeitura do Estado da Guanabara. Casou-se com Eraldo.

 

 


Filhos

Casada com Eraldo Diógenes Millet em 03 de junho de 1953, Cleusa Millet teve três filhos: Álvaro Eraldo Renê Millet (1954), Zeno Eduardo Renê Millet, (1956) e Mônica Nazareth Renée Millet (1959). Esta última percursionista e dona de dons especiais, herdados da avó Menininha e da Mãe Cleusa.

 

Ao ir morar no bairro de Vila Isabel, Cleusa pede transferência para o Hospital Miguel Couto, onde trabalhou, na maternidade, no período de 1956 e 1964.

 


Retorno à Bahia

Em 1965 pediu exoneração do trabalho para mudar-se definitivamente para Salvador, muito preocupada com o estado de saúde de sua mãe. Passa a morar no Alto do Gantois, na mesma rua do terreiro onde sua Mãe, onde Dona Menininha fazia seus encantos. Intensifica sua participação nas atividades religiosas do terreiro, entregando-se de corpo e alma para ajudar sua mãe e aos Orixás. A filha de Mãe Menininha do Gantois já mostrava suas habilidades e compromisso com a comunidade a qual amava e lutava pela melhoria de vida a todos da comunidade.

 


Conquistas e feitos importantes

Em 1968, consegue junto às autoridades municipais, a instalação de uma escola pública  no terreiro, além de contribuir com a manutenção da disciplina dos alunos, solicitou que fossem feitas instalações sanitárias para a escola e, desde então.

Cleusa era incansável, quando o tema era sua comunidade. Se envolvia com extrema grande determinação, em eventos, cerimônias, obras estruturais e outras diligências relacionadas com o Terreiro do Gantois. Atuando como obstetriz enfermeira, ela realizou mais de cem partos para a comunidade e a circunvizinhança do Gantois. Em 1988, preocupada com a fome e a deficiência nutricional das crianças inicia a distribuição de cestas básicas para a comunidade do Gantois. Aliado a tudo isso, Cleusa foi sempre o braço direito e esquerdo de sua Mãe, que já deixava para sua primogênita as diversas atividades diárias do terreiro.

Falecimento de Mãe Menininha

Com o falecimento de Mãe Menininha do Gantois, ocorrido em 1986, inicia-se a preparação para a ocupação do trono. Passados três anos da partida de sua mãe,  Cleusa Millet assume o terreiro do Gantois no posto de Yalorixá. A partir daí, o Gantois viveu também dias de glória, melhorias estruturais, manutenção do crescimento no número de filhos feitos pela renomada famosacasa (mais de 70 pessoas foram iniciadas no candomblé durante a sua gestão), capricho nas festas dedicadas aos Orixás e uma multidão de pessoas que iam ao Gantois pedir ajuda espiritual para suas mazelas e purificar seus espíritos.

O espaço segue atraindo gente de todas as partes do mundo, famosos ou não. Ela continuou o trabalho de Mãe Menininha – conforme costumava dizer – mas, intensificou ainda mais ações variadas em benefício da Casa, algumas das mais relevantes:

1990 – executou a maior reforma da estrutura física da história do terreiro do Gantois;

1992 – empreendeu o projeto, construção e instalação do Memorial Mãe Menininha do Gantois;

1994 – desenvolveu e realizou o projeto das comemorações ao centenário de
nascimento de Mãe Menininha do Gantois – um evento que teve repercussão nacional –, criou o Coral Bibiano Cupim e inaugurou a praça ‘Largo da Pulchéria’ (em homenagem à segunda Iyalorixá do Gantois), obra que impediu definitivamente a circulação de veículos motorizados no
alto do Gantois;

1996 – concluiu a obra de contenção da encosta do terreiro, na época, o maior investimento público em uma obra de engenharia para um templo não católico;

1997 – construiu a escada que dá acesso à fonte – também reformada neste período – utilizada para importantes cerimônias do templo. Deu início ao processo de tombamento do terreiro junto ao IPHAN. Conseguiu também a desapropriação do terreno contíguo à entrada principal do terreiro para que ali fosse instalada, entre outras atividades, uma escola profissionalizante.
Obteve a doação e anexação ao patrimônio do terreiro de uma área de aproximadamente 300m 2 , nos fundos da propriedade, onde seria construída uma agencia funerária – e foi a base para a instalação da contenção já mencionada.

Morte de Mãe Cleusa do Gantois

Em 15 de outubro de 1998, Mãe Cleusa deixa esse plano e vai se encontrar com os Orixás, deixando um legado de fé, respeito e construção. A ialorixá escreveu, de próprio punho, uma história de responsabilidade, benevolência e doação ao próximo.

POR: Rita Moraes
Publicado em 13/12/2023