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Clube Harmonia de São Paulo é alvo de polêmica por restringir a presença de babás

O clube Sociedade Harmonia de Tênis, no Jardim América, um dos mais tradicionais de São Paulo, criou regras que restringem que babás acessem os restaurantes do clube desacompanhadas das crianças que cuidam e dos patrões. As informações são da coluna Mônica Bergamo, do jornal “Folha de S.Paulo”. Em nota, o clube nega que haja qualquer forma de discriminação em suas regras internas.

As regras constam de um comunicado enviado pela diretoria aos sócios do clube, que é um dos mais restritos e elitizados da cidade. O documento fixa que as babás devem utilizar roupa branca, bermuda somente com comprimento acima do joelho, camisetas sem estampas ou transparências e calças legging somente se a camiseta branca tiver altura próxima ao joelho.

As regras determinam ainda que elas só podem fazer refeições no clube quando estiverem com as crianças, e apenas em dois locais específicos: “nas mesas dispostas entre os quiosque a piscina infantil” e nas mesas “em frente ao balcão da lanchonete da piscina”.

O comunicado restringe também a circulação das babás às áreas do parquinho, quiosque, vestiário infantil e na sala de espera ao lado da portaria social. Enquanto as profissionais esperam as crianças fazer suas atividades esportivas, elas só poderão ficar nesses lugares.

A assessoria de imprensa do clube divulgou nota informando que a atualização do regulamento interno criou novas áreas que podem ser acessadas por colaboradores e disse que estes têm até mais liberdade para utilizar espaços do que convidados dos sócios. O Harmonia destacou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que em 2018 definiu que clubes têm autonomia para delimitar vestimentas aceitas em suas dependências.

Clube nega

“Ao contrário do que foi publicado, a Sociedade Harmonia de Tênis esclarece que seu regulamento para acesso às dependências do clube não discrimina a presença de quaisquer pessoas. Esclarecemos que o clube aplica uma das menores taxas para acesso de acompanhantes entre os clubes com padrão similar na cidade de São Paulo, o que comprova que não temos interesse em ‘restringir o acesso’ da forma como foi indicada na reportagem. Além disso, o uso vestimentas por parte de acompanhantes em clubes de São Paulo foi tema de debate há anos e a questão já foi pacificada pelo Supremo Tribunal Federal”, informou, em nota.
Sindicatos se manifestam

Na última sexta-feira, 11, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos distribuíram panfletos convocando para a manifestação na 25 de março, praça da Sé, Santa Ifigênia e Anhangabaú, na região central de São Paulo.

Silvia Maria dos Santos, que preside a entidade, disse que recebeu o caso com “profunda indignação”. “É inaceitável que nos dias de hoje aconteçam ainda essas coisas. Em solidariedade às babás e em defesa de seus direitos é que estamos nesse movimento”.

“É uma oportunidade para que possamos mostrar nossa determinação em enfrentar a discriminação e promover um ambiente inclusivo e de respeito para as babás e para todas as profissões”, pontuou Silvia. “Pedimos respeito e igualdade para nós, trabalhadoras”, resumiu.

A Federação Domésticas SP informou estar recebendo manifestações de trabalhadoras domésticas, em especial babás, que frequentam este e outros clubes paulistanos e se sentem “constrangidas com as exigências e privações”.

Em nota, a entidade sindical afirma que as restrições visam “demarcar aqueles que estão no local, mas que não pertencem à classe social dos associados, o que facilita e encoraja a prática de ações discriminatórias contra os empregados domésticos que ali estão exercendo seu trabalho”.

“Repudiamos essa atitude terrível justamente por entender que é uma conduta discriminatória que só reforça e valida a marginalização da categoria”, afirma Nathalie Rosário, advogada da Federação Domésticas SP.

“A gente está organizando trabalhadoras domésticas, carro de som e contamos também com o apoio da deputada Ediane [Maria, do PSOL], que representa a categoria doméstica na Frente Parlamentar”, conta Rosário.

“Vamos até lá fazer essa mobilização para mostrar que a categoria existe, tem voz, merece dignidade, respeito e tratamento igualitário. Não pode haver essa disparidade como há muito vem acontecendo”, ressalta.

 

POR: Rita Moraes
Publicado em 16/08/2023