ConexãoIn


Vítimas de Mariana que processam Vale e BHP na Inglaterra criticam oferta de acordo

 

Vítimas da tragédia de Mariana se manifestaram contra a mais recente proposta de indenização apresentada nesta segunda-feira (29) pelas mineradoras Vale e BHP pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015. Os atingidos que processam as empresas na Inglaterra alegam que o valor anunciado de R$ 126 bilhões é, na verdade, R$ 72 bilhões em dinheiro novo e não cobre a reparação integral dos danos causados pela lama tóxica.

 

A oferta visa encerrar todas as obrigações legais e processos judiciais no Brasil relacionados ao rompimento da barragem da Samarco. O potencial acordo, que seria executado ao longo de 20 anos, está sendo discutido há quase três anos pelo governo federal, estados de Minas Gerais e Espírito Santo, entidades de justiça e mineradoras.

 

Prefeitos dos municípios que fazem parte da ação criticaram a oferta. Para o prefeito de Baixo Guandu (ES), Lastênio Cardoso, a nova oferta é “extremamente baixa” e “desrespeitosa”. “É inaceitável que as mineradoras ainda se neguem a pagar indenizações justas. Os municípios sequer possuem o direito de conhecer os termos do que está sendo discutido. Baixo Guandu busca reparação integral por todos os danos sofridos desde a ruptura e seguimos confiantes de que a ação na justiça da Inglaterra vai fazer justiça aos milhares de afetados por esse desastre.”
O escritório global de advocacia Pogust Goodhead, que representa cerca de 700 mil afetados pela tragédia contra BHP e Vale na Inglaterra, explica que a oferta contempla somente as obrigações das empresas com as autoridades brasileiras, e não a reparação e compensação individual das vítimas. Além disso, esclarece que o montante de R$ 127 bilhões anunciado pela Vale engloba valores já desembolsados ao longo dos mais de oito anos decorrentes da tragédia. O julgamento de responsabilidade das mineradoras em Londres está marcado para outubro deste ano.

 

“Infelizmente, a oferta é enganosa de várias maneiras. Em primeiro lugar, não resolve os processos movidos por quase 700 mil vítimas em Londres. Em segundo lugar, a oferta visa sanar as obrigações das empresas com as autoridades brasileiras, e não a reparação e compensação que as vítimas merecem. Em terceiro lugar, embora o número anunciado seja de R$ 127 bilhões, apenas metade desse montante é dinheiro realmente novo a ser aplicado”, ressalta Tom Goodhead, CEO do escritório.

 

O advogado também reforça que os atingidos não foram ouvidos nas negociações no Brasil. “As vítimas foram excluídas desse processo e a oferta não atende às suas demandas por justiça. Depois de quase nove anos, as empresas deveriam agora assumir suas responsabilidades com as vítimas e com o governo brasileiro”, finaliza.

 

O morador de Governador Valadares (MG), Edertone José da Silva, comenta que “ao longo desses mais de 8 anos de espera essa é só mais uma das manobras das companhias para tentar nos enganar, essa atitude deles não é novidade para nós. Infelizmente nossa esperança não está mais no Brasil, e sim em Londres, no dia 07 de outubro”, disse Edertone em referência à data de início do julgamento de responsabilidade na corte inglesa.
O representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andreoli, destaca que as vítimas não foram devidamente incluídas nas discussões. “As empresas criminosas estão brincando com a inteligência do povo brasileiro. Essa está longe de ser uma proposta razoável de reparação e jamais será aceita pelos atingidos. Esperamos que as instituições e governos também não aprovem”, enfatiza.

 

POR: Rita Moraes
Publicado em 30/04/2024