Descoberta de nova espécie de dinossauro na Bahia resgata história paleontológica do Brasil

Descoberta de nova espécie de dinossauro na Bahia resgata história paleontológica do Brasil

Reconstrução artístico-científica do paleoambiente da Bacia do Recôncavo durante o Cretáceo Inferior. Ilustração de Matheus Gadelha.

 

Paleontólogos brasileiros analisaram fósseis coletados entre 1859 e 1906 na Bahia, a fim de desvendar os primeiros ossos de dinossauros identificados na América do Sul. Esses fósseis, anteriormente dados como perdidos, foram redescobertos no Museu de História Natural de Londres e pertencem tanto a dinossauros carnívoros quanto herbívoros.

Durante a análise, os cientistas identificaram uma nova espécie de dinossauro ornitísquio, popularmente conhecido como “bico-de-pato”. A espécie foi batizada de Tietasaura derbyiana, uma homenagem à icônica personagem “Tieta do Agreste”, do renomado escritor baiano Jorge Amado, e ao geólogo e naturalista Orville A. Derby (1851–1915), fundador do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, atualmente conhecido como Serviço Geológico do Brasil (SGB), e um dos pioneiros da paleontologia brasileira.

 

Árvore representando as relações evolutivas dos dinossauros ornitísquios da Bacia do Recôncavo.

 

Segundo as pesquisadoras Kamila Bandeira e Valéria Gallo – ambas do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenadoras do estudo – a descoberta da Tietasaura derbyiana revela que essa espécie habitou o Brasil durante o período Cretáceo, uma fase crucial da era Mesozoica. Esse período foi marcado pela fragmentação do antigo supercontinente Gondwana, evento que originou os atuais continentes da América do Sul, Antártica, Austrália e África.

Já Rafael Costa, paleontólogo do Museu de Ciências da Terra (MCTer) do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e um dos co-autores do estudo, destacou que além da relevância científica e histórica do estudo, a descrição da Tietasaura derbyiana demonstra a importância da salvaguarda dos fósseis em museus, o que possibilita que sejam estudados e conhecidos mesmo após mais um século de sua coleta. “Os museus não são meros repositórios de objetos velhos, mas berçários de novas ideias e fontes inesgotáveis de novas pesquisas científicas”, enfatizou.

 

Metade distal do fêmur esquerdo da nova espécie, Tietasaura derbyiana (NHM-PV R.3424), em diferentes vistas. Escala = 100 mm.

 

Essa pesquisa confirmou a presença de dinossauros ornitísquios no Brasil, com base em evidências osteológicas, expandindo sua faixa geográfica e temporal para antes da separação continental entre a América do Sul e a África. “Os depósitos da Bacia do Recôncavo, por exemplo, abrigam um registro fossilífero relativamente diversificado, incluindo microfósseis diversos, pólens, esporos, restos de plantas preservados em âmbar e troncos de coníferas silicificados”, completou Costa.

A descoberta, publicada na prestigiada revista Historical Biology, intitulada de “A Reassessment of the Historical Fossil Findings from Bahia State (Northeast Brazil) Reveals a Diversified Dinosaur Fauna in the Lower Cretaceous of South America”, está disponível aqui.

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