Bahia celebra 100 anos de uma das mais importantes Yalorixá do Brasil
Em 25 de dezembro deste ano, Cleusa Millet, mais conhecida no Bahia e no Brasil, como Mãe Cleusa estaria completando seu centenário de vida. Herdeira e filha mais velha de Mãe Menin inha do Gantois, Mãe Cleusa comandou um dos terreiros mais importantes do país, de 1989 até 1998, com mãos de ferro, seriedade e acolhimento não só aos filhos e filhas feitos no terreiro, como a comunidade do Alto da Federação, onde está erguido o Gantois.
Cleusa Millet nasceu no centro, Salvador-BA em 25 de dezembro de
1923, fdo casamento de Maria Escolástica da Conceição Nazareth, a Mãe Meninha e seu esposo, Álvaro Mac Dowell de Oliveira. Iniciou os estudos na Escola N.Sra. de Lourdes, em seguida Colégio Sacramentinas, todos em Salvador, sempre com louvor e excelentes notas. Formou-se em obstetrícia em 1946 pela Faculdade de Medicina da Bahia.
Com o instinto empreendedor, Cleusa se muda para o Rio de Janeio, em 1947 foi e assume cargo na Caixa Econômica Federal. Retorna a Salvador, em 1948, por ocasião do falecimento do seu pai. Depois, volta para o Rio de Janeiro, em 1950, se forma em enfermagem e vai trabalhar no JASERG – Hospital
Maternidade dos Servidores da Prefeitura do Estado da Guanabara. Casou-se com Eraldo.
Filhos
Casada com Diógenes Millet em 03 de junho de 1953, Cleusa Millet teve três filhos: Álvaro Eraldo Renê Millet (1954), Zeno Eduardo Renê Millet, (1956) e Mônica Nazareth Renée Millet (1959).
Ao ir morar no bairro de Vila Isabel, Cleusa pede transferência para o Hospital Miguel Couto, onde trabalhou, na maternidade, no período de 1956 e 1964.
Retorno à Bahia
Em 1965 pediu exoneração do trabalho para mudar-se definitivamente para Salvador, muito preocupada com o estado de saúde de sua mãe. Passa a no Alto do Gantois, na mesma rua do terreiro onde sua Mae, Dona Menininha fazia seus encantos. Intensifica sua participação nas atividades religiosas do
terreiro, entregando-se de corpo e alma aos Orixás. A filha de Mãe Menininha do Gantois já mostrava suas habilidades e compromosso com a comunidade a qual amava e lutava pela melhoria de vida dos seus vizinhos.
Conquistas e feitos importantes
Em 1968, consegue junto as autoridades municipais, a instalação de uma escola pública no terreiro, além de contribuir com a manutenção da disciplina dos alunos, solicitou que fossem feitas instalações sanitárias para a escola e, desde então.
Cleusa era incansável, quando o tema era sua comunidade. Se envolvia com extrema grande determinação, em eventos, cerimônias, obras estruturais e outras diligências relacionadas com o Terreiro do Gantois. Atuando como enfermeira, ela realizou mais de cem partos para a comunidade e a
circunvizinhança do Gantois. Em 1988, preocupada com a fome e a deficiência nutricional das crianças inicia a distribuição de cestas básicas para a
comunidade do Gantois. Aliado a tudo isso, Cleusa foi sempre o braço direito e esquerdo de sua Mãe, que já deixava para sua primogênita as atividades diárias do terreiro.
Falecimento de Mãe Menininha
Com o falecimento de Mãe Menininha do Gantois, ocorrido em 1989, inicia-se a preparação para a ocupação do trono. Passados três anos, da partida de sua mãe, Cleusa Millet assume o terreiro do Gantois no posto de Yalorixá. A partir daí, o Gantois viveu dias de glória, melhorias estruturais, crescimento no número de filhos feitos pela famosa casa (mais de 70 pessoas foram iniciadas no candomblé durante a sua gestão, com festas lindas dedicadas aos Orixás.
O espaço atraia gente de todas as partes do mundo, famosos ou não. Ela continuou o trabalho de Mãe Menininha – conforme costumava dizer – e intensificou ações das mais variadas em benefício da casa, algumas das mais relevantes:
1990 – executou a maior reforma da estrutura física da história do terreiro do Gantois;
1992 – empreendeu o projeto, construção e instalação do Memorial Mãe Menininha do Gantois;
1994 – desenvolveu e realizou o projeto das comemorações ao centenário de
nascimento de Mãe Menininha do Gantois – um evento que teve repercussão nacional –, criou o Coral Bibiano Cupim e inaugurou a praça ‘Largo da Pulchéria’ (em homenagem à segunda Iyalorixá do Gantois), obra que impediu definitivamente a circulação de veículos motorizados no
alto do Gantois;
1996 – concluiu a obra de contenção da encosta do terreiro, na época, o maior investimento público em uma obra de engenharia para um templo não católico;
1997 – construiu a escada que dá acesso à fonte – também reformada neste período – utilizada para importantes cerimônias do templo. Deu início ao processo de tombamento do terreiro junto ao IPHAN. Conseguiu também a desapropriação do terreno contíguo à entrada principal do terreiro para que ali fosse instalada, entre outras atividades, uma escola profissionalizante.
Obteve a doação e anexação ao patrimônio do terreiro de uma área de aproximadamente 300m 2 , nos fundos da propriedade, onde seria construída uma agencia funerária – e foi a base para a instalação da contenção já mencionada.
Morte de Mãe Cleusa do Gantois
Em 18 de outubro de 1998, Mãe Cleusa deixa esse plano e vai se encontrar com os Orixás, deixando um legado de fé, respeito, e construção. A ialorixá escreveu, de próprio punho, uma história de responsabilidade,
benevolência e doação ao próximo.
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