Últimos dias exposição Krajcberg & Zanine na Galeria Athena

Últimos dias exposição Krajcberg & Zanine na Galeria Athena

                    Peça “Bailarina”, de Frans Krajcberg

 

Termina neste sábado, dia 18 de maio de 2024, a exposição “Krajcberg & Zanine”, na Galeria Athena, que une, pela primeira vez, obras do artista Frans Krajcberg (1921-2017) e do arquiteto e designer José Zanine Caldas (1919-2001), que foram amigos e se influenciaram mutuamente. A relação dos dois é pouco conhecida e até hoje nunca havia sido feita uma exposição sobre o assunto. A mostra, que é realizada em parceria com a Diletante42, explora, em um diálogo inédito, os pontos de contato entre as obras destes dois grandes nomes da cultura brasileira, ressaltando a preocupação de ambos com o meio ambiente. Paralelamente também está sendo apresentada a exposição “Pandro Nobã: Caminho de volta”, na Sala Casa.

 

                                      Dinnig Table, de Zanine Caldas

 

“Krajcberg e Zanine foram muito amigos e tiveram uma convivência muito próxima com a natureza. Existe um diálogo entre as suas obras, e a ideia da exposição é apresentar o melhor de cada um deles, com peças importantes e extremamente representativas”, diz Liecil Oliveira, um dos sócios da Galeria Athena.

 

                                  Sem nome, de Frans Krajcberg

 

A exposição apresenta cerca de 20 peças, entre esculturas de Krajcberg, dos anos 1960 e 1970, e itens de mobiliário e também uma escultura de Zanine, dos anos 1970 e início de 1980. Com produções bem diversas, os dois têm em comum o uso sustentável da madeira e a preocupação com o meio ambiente, já na década de 1970, quando pouco se falava sobre o assunto, sendo pioneiros neste aspecto. A mudança de ambos para a cidade de Nova Viçosa, no sul da Bahia, teve grande influência nisso e foi um marco na produção de ambos.

 

                                 Namoradeira, de Zanine Caldas

 

Na exposição, são apresentados relevos de parede de Frans Krajcberg, feitos a partir de madeiras provenientes de queimadas e desmatamentos, com pigmentos naturais, criados por ele, nas cores preto, branco e vermelho. Há, ainda, uma única e grande obra de chão, da série “Bailarinas”, da década de 1980, feita a partir de madeira queimada e pigmentos naturais, medindo 2,90m de altura. “Krajcberg tentou, com esta escultura, recriar a dança de sua namorada bailarina no mangue”, conta Liecil Oliveira.

 

 

Ainda de Krajcberg, há obras da “Série Sombra”, técnica que consiste em capturar a sombra projetada por algum elemento natural, recortando em um suporte de madeira o desenho criado, que depois é fixado na peça, dando relevo e volume. “Era um projeto complicadíssimo, no qual ele colocava no sol aquilo que ele queria criar uma sombra, mas nem sempre ficava como ele queria e ele ia desenhando na madeira o defeito que aparecia. Ficava horas fazendo isso. Algumas eram sem cor, madeira lavada, mas na grande maioria ele usava elementos da natureza, pigmentos que ele encontrava no minério ou na terra, e trabalhava este pigmento para criar essas cores, principalmente o preto, branco e vermelho, que ele amava, sempre tendo a natureza como fonte de inspiração”, afirma Liecil Oliveira.

 

 

De José Zanine Caldas são apresentadas peças icônicas de mobiliário e design, conhecidos como “Móveis Denúncia”, que faziam um alerta sobre o desmatamento e o desperdício de matéria-prima na Mata Atlântica. Dentre elas, destacam-se uma mesa de jantar e a emblemática poltrona namoradeira. Será apresentada, ainda, uma escultura de Zanine em madeira. Apesar de ser mais conhecido por seu mobiliário, ao longo de sua trajetória, o arquiteto produziu algumas esculturas.

NOVA VIÇOSA – UM MARCO NAS TRAJETÓRIAS DE ZANINE E KRAJCBERG

José Zanine Caldas começou a frequentar a região de Nova Viçosa, no sul da Bahia, em 1968, onde se redescobre e modifica bastante a sua produção, tanto arquitetônica quanto de mobiliário, passando a utilizar madeiras de resíduo florestal. Encantado com o lugar, sonhava em transformá-lo em uma capital cultural e levou diversos nomes para lá, como Chico Buarque, Oscar Niemeyer e os artistas Carlos Vergara e Frans Krajcberg, que morou na cidade até o final de sua vida, na famosa casa na árvore, construída por Zanine. “Quando se fala de Nova Viçosa, pensa-se logo no Krajcberg, mas quem levou ele para lá foi o Zanine, que também tem uma passagem muito marcante pela cidade na questão urbanística e arquitetônica”, conta Flávio Santoro, sócio da Diletante42, que organiza a exposição junto com a Galeria Athena.

Foi em Nova Viçosa que o arquiteto produziu os “Móveis Denúncia”, reaproveitando materiais disponíveis como forma de protesto contra o desmatamento, característica que marcou toda a sua produção.

Em 1972, levado por Zanine, Krajcberg passa a residir em Nova Viçosa e sua obra tem uma definitiva mudança. Ampliando o processo de escultura iniciado anos antes em Minas Gerais, começa a trabalhar com vegetação danificada por queimadas e desmatamento, intervindo especialmente em troncos e raízes. O caráter de denúncia de suas obras fez com que o artista, que nasceu na Polônia e veio para o Brasil em 1948, naturalizando-se em 1957, seja mundialmente conhecido como um ecologista.

A exposição é organizada pela Athena – galeria que este ano comemora três décadas de atuação no mercado secundário de arte moderna e contemporânea e na representação de artistas brasileiros contemporâneos – e Diletante 42, galeria que se destaca por sua coleção 100% brasileira, com 20 anos de experiência em peças das décadas de 1940 a 1980. O projeto tem objetivo de unir artes visuais e design, valorizando o pensamento e a cultura brasileira.

 

PANDRO NOBÃ

Paralelamente à exposição, é apresentada a mostra “Pandro Nobã: Caminho de volta”, na Sala Casa, com cerca de 15 trabalhos da produção recente do artista carioca, incluindo obras inéditas. “Suas obras revelam um imaginário ao mesmo tempo pessoal e popular, baseado em experiências ligadas à ancestralidade, e à vivência do artista nos terreiros de religiões de matriz afro-brasileira. Ao mesmo tempo, suas pinturas usam como suporte telas e também elementos do seu cotidiano, como objetos de barro e tecidos rendados, geralmente utilizados nos cultos sagrados de terreiro”, afirma a curadora Fernanda Lopes. Pandro Nobã (1984) é artista urbano autodidata, nascido e criado no bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. No início dos anos 2000, formou o coletivo Artistas Urbanos Crew e atuou como instrutor de grafite em escolas públicas, projetos sociais e dentro de instituições de medidas socioeducativas. Nas artes visuais, tem dedicado sua pesquisa em pintura, ganhando destaque em importantes exposições.

Serviço: Krajcberg & Zanine

Exposição: até 18 de maio de 2024

Galeria Athena

Rua Estácio Coimbra, 50 – Botafogo – Rio de Janeiro, Brasil

Telefone: (21) 2513.0703

De terça a sexta-feira, das 11h às 19h. Sábados, das 12h às 17h.

www.galeriaathena.com

 

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