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Luto na Literatura: Morre escritora Lya Luft

A escritora Lya Luft faleceu na madrugada desta quinta-feira,30, em Porto Alegre, segundo informou sua filha, Suzana Luft. Natural de Santa Cruz do Sul, ela tinha 83 anos. Lya faleceu em casa.

Ela lutava contra um câncer de pele, que se espalhou para outros órgãos. A doença foi descoberta há sete meses. A escritora passou por tratamento e chegou a ser internada no Hospital Moinhos de Vento, na Capital. Teve alta no dia 21 de dezembro. Desejava morrer em seu apartamento.

Vizinha de porta da mãe, a filha Susana Luft, médica pediatra, recebeu a notícia do falecimento hoje pela manhã.

— Uma pessoa iluminada, feliz, alegre, apaixonada pelos netos. Tudo o que pôde ensinar de amor e companheirismo, ela ensinou. Era uma “galinha choca”, voltada para a família, muito calorosa e amorosa. Para nós, ela foi o ideal. Sempre foi muito amada. Para as letras, não nem preciso dizer — emocionou-se Susana ao telefone.

Carreira 

Colunista de jornal Zero Hora e dona de uma obra que conta com 31 títulos, a premiada Lya Luft transitou por vários gêneros: romances, poemas, contos, crônicas, ensaios, infantil, livro de memórias. Sempre com uma imaginação fértil, de quem via gnomos na infância — e, de certo modo, não os deixou no passado.

— Eu era uma criança de muita imaginação. Não tinha um amigo imaginário, mas uma família inteira, todos pequeninhos. Sentava no peitoril da janela no meu quarto e conversava com eles. Todos de verde, com gorrinhos. Provavelmente, tirei essa imagem de um livro. Mas, para mim, eram reais — contou em entrevista para GZH.

A sua criativa visão única do mundo lhe deu as munições necessárias para carregar os seus livros com personagens complexos, densos, melancólicos e divertidos. Daqueles que surgem apenas de mentes que não têm medo de viajar e, durante estes passeios pelo mundo da imaginação, colher saborosos frutos que formam seres humanos únicos. Mesmo que eles estejam restritos às páginas de um livro.

Ela deixa o marido, o engenheiro Vicente de Britto Pereira, os filhos Susana, Pedro e André (falecido em 2017), além de sete netos e netas. Lya será velada em uma cerimônia íntima, restrita a familiares, e depois cremada, ainda sem confirmação de data e horário.

Vida e Obra 

Lya Fett nasceu em Santa Cruz do Sul em 15 de setembro de 1938. Filha de descendentes germânicos, aprendeu o alemão e, aos 11 anos, já decorava poemas de Goethe e Schiller. Depois de cursar o então Ensino Primário e não ir tão bem no chamado Científico, a futura autora passou um ano em Porto Alegre, em 1955, fazendo a Escola Normal no Colégio Americano. Com saudade de casa, ela retornou para Santa Cruz para concluir a Escola Normal em um colégio católico. Só voltou à Capital para cursar faculdade, em 1959.

Na PUCRS, Lya concluiu o curso de Letras Anglo-germânicas em 1963. Ela ainda faria dois mestrados, um em Linguística, também na PUCRS, em 1975, e outro em Literatura Brasileira, na UFRGS, em 1978. Entre 1969 e 1982, atuou como professora de Linguística na Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), mas deixou de lecionar quando a carreira de escritora deslanchou.

Foi na PUCRS, enquanto realizava a sua graduação que Lya, ainda no primeiro semestre, conheceu o então Irmão Arnulfo, chamado Celso Pedro Luft, professor de Redação em Língua Portuguesa. O religioso, que era o linguista e gramático, foi mentor da então aluna 17 anos mais nova.

Após se declararem um para o outro, enquanto a escritora cursava o seu último ano na instituição de ensino, ele abandonou a vida religiosa e pediu dispensa de seus votos. Eles se casaram em 1963. Juntos, tiveram três filhos: Suzana, em 1965; André, em 1966; e Eduardo, em 1969.

André, que teve como padrinhos Erico Verissimo e sua esposa, Mafalda, amigos de Lya e Celso, morreu em 2017, aos 51 anos, enquanto surfava na Praia do Moçambique, em Florianópolis, Santa Catarina. O agrônomo sofreu uma parada cardiorrespiratória.

O casamento de Lya com Celso durou até 1985, com uma separação amigável. No mesmo ano, ela começou um relacionamento com o psicanalista e escritor Hélio Pelegrino, que viria a morrer de um ataque cardíaco em 1988. Quatro anos mais tarde, Lya retomou seu casamento com Celso Pedro Luft. Menos de um ano depois, ele sofreu um AVC e morreria no fim de 1995. Lya, até o fim de sua vida, foi companheira do engenheiro de transportes carioca Vicente de Britto Pereira, seu terceiro marido.

Em 2019, aos 81 anos, Lya Luft teve de passar por uma angioplastia de urgência, após sofrer um infarto agudo do miocárdio.

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POR: Rita Moraes
Publicado em 30/12/2021