“Um Brasil caótico e hipócrita é o retrato pintado por Sérgio Bianchi em ‘Cronicamente inviável’. Um Brasil nojento em que ninguém se salva de sua culpa, onde as relações de opressor e oprimido estão expostas a toda prova.”(Fonte: Tela Crítica).
Pode parecer a princípio uma crítica à “realidade social” e crença de que ela possa ser mudada. Mas “Cronicamente Inviável”, a partir do próprio título, não parece ter essa esperança. A denúncia do filme é sobretudo moral.
Diz ainda a crítica: “A dondoca atropela um menor de rua. Sai do carro e nem se preocupa em ver se o menino está vivo ou morto: organiza apenas um discurso para dizer que não teve culpa de nada. A cena se repete, com outra dondoca, mais adiante no filme. E quase todos os personagens, na verdade, estão às voltas com o mesmo problema: o de livrar-se de qualquer responsabilidade pelos horrores que acontecem no país.
Crítica à burguesia? Novamente, o filme de Sérgio Bianchi puxa o tapete do espectador. Pois as ‘classes populares’ não inspiram nenhum discurso otimista. O policial, a gerente que teve infância pobre, o líder sem-terra parecem detestar, tanto quanto os ricos, a classe de que se originam. Só parece haver solidariedade na opressão.” (Crítica da Folha de S. Paulo).
Brasil hoje, 18 anos depois mas ainda sem chegar à adolescência moral.
Até cerca de três meses atrás a mídia, em todas as suas modalidades, fervilhava dia e noite com denúncias espantosas que colocavam políticos e governantes na lixeira da corrupção. Parecia não escapar ninguém, nenhum partido, nenhuma “ideologia”.
Chegava ao máximo a sensação de que o rolo compressor da Lava Jato, após muitas prisões e tenebrosas revelações, finalmente iniciara um processo irreversivel para moralizar o país.
Mas veio a Copa do Mundo e enquanto Neymar caía e rolava em gramados russos, aqui políticos e mesmo alguns juízes articulavam o travamento do processo de saneamento da política corrupta.
E parece que acertaram na mosca, pois hoje os principais candidatos à presidência nada mais são do que aqueles que há décadas vêm participando desta política enlameada, sendo que a maioria não só foi denunciada por atos de grossa corrupção, como o principal deles jacta-se de ter obtido o apoio do tal Centrão, composto, por sua vez, na sua maioria, por políticos investigados ou mesmo processados por falcatruas envolvendo o assalto ao erário.
Ou seja, de repente tudo como dantes no quartel (opa!) de Abrantes.
Como sempre alienada e por demais preocupada em sobreviver a balas perdidas, assaltos a ônibus, filas hospitalares e um ridículo salário, além de ter que se preocupar também com as baboseiras milionárias dos eternos Ba-Vis e congêneres desta pátria de chuteiras, a grande maioria da população (eleitores forçados) segue viajando nesta maionese botulínica, estragada há muito tempo.
E a chamada grande mídia, num estalar de dedos, engavetou solenemente as grandes denúncias que tantas espetaculares manchetes lhes renderam ao longo dos últimos quatro anos.
Fecharam-se as cortinas do palco e a platéia deixou o teatro. Voltou para a realidade cruel, aparentemente de uma inviabilidade crônica.
E logo estaremos a ver os fantasmas vivos de um passado que insiste em permanecer presente mostrarem caras lavadas na TV, prometendo “geração de emprego, saúde e segurança”. Trágico.
Artigo do jornalista Alex Ferraz.
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