Tiago Silva Mussi: “Meu pai frequenta as grandes rodas em Brasília e se envergonha de ter tido um relacionamento com a empregada doméstica”
A história do atual diretor do Procon de Santa Catarina, Tiago Silva, 36 anos, se soma aos milhares de filhos, que ao nascer, não possuem o nome do pai na Certidão. Mas, após ganhar na justiça o direito de usar o sobrenome do pai, Tiago desabafou nas redes sobre o processo, que ganhou publicidade, por envolver um alto figurão da Justiça brasileira. Ele é filho do atual vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Tiago Mussi. Pai e filhos têm o mesmo nome, Tiago não soube informar porque sua mãe escolheu o mesmo nome do pai. Se por paixão, ou para dar ao filho alguma pista.
Em 2008, Tiago consegue o reconhecimento paterno e passa a assinar Tiago Silva Mussi, mas a batalha judicial foi árdua e durou apoximadamente 7 anos. Ele é filho de uma relação entre o ex-desembargador com a empregada doméstica da casa de Mussi à época. Tiago contou que o ministro nunca quis nenhum contato com ele ou com sua mãe, Regina da Silva, falecida em março deste ano em decorrência de um câncer. Sem nunca ter trazido essa história à tona, o ex-vereador decidiu falar após passar o primeiro dia das mães sozinho. “Meu maior trauma foi a rejeição. Ele achar que sou um filho de segunda classe”, desabafa.
Inicio de tudo
Quando assumiu o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em janeiro de 1994, aos 42 anos, o advogado Jorge Mussi pisou com orgulho no tapete vermelho estendido na entrada do salão nobre da sede do Judiciário catarinense, na antiga praça dos Três Poderes, centro de Florianópolis. Oriundo dos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), começava ali a sua caminhada para a vice-presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), cargo que assume em agosto deste ano.
Naquela tarde, Mussi não sabia que o carpete aveludado sobre o qual desfilou havia sido lavado na véspera pela empregada negra que também cuidava das roupas da família dele, proprietária de uma das mansões luxuosas da famosa rua Presidente Coutinho, também no centro antigo da capital de Santa Catarina. Mas ele a conhecia.
Quebra de silêncio pela avó de Tiago
Minervina da Silva, empregada doméstica, havia decidido em 11 de setembro de 1982 quebrar o silêncio e revelar o “segredo” que ligava a sua família ao agora desembargador. Foi quando a lavadeira nascida e criada em meio à pobreza da comunidade do Morro da Cruz se encheu de coragem e telefonou para dizer ao “doutor” que ele era o pai do neto dela, um menino bonito e saudável que acabara de nascer na maternidade Carmela Dutra. A sua filha Regina, de 17 anos, engravidou do filho dos patrões. Na época, Mussi já era advogado criminalista e tinha 34 anos – o dobro da idade dela, ainda adolescente. Regina era a doméstica da casa e dormia no trabalho; após a gravidez, foi demitida. Deram ao menino o nome de Tiago.
Negação da paternidade
Do outro lado da linha, a reação foi de negação. Mas essa foi só a primeira rejeição. A intransigência do advogado levou a uma longa batalha judicial que se arrastou por 19 anos. De um lado, um jovem negro e favelado. Do outro, um dos homens mais poderosos do Judiciário catarinense.
Eleito em maio de 2020, o ministro Jorge Mussi assumiu em agosto a vice-presidência do STJ. Natural de Florianópolis, Mussi é advogado por formação, especialista em matéria penal, e está no STJ desde 2007. Exerceu a presidência da turma de 2010 a 2012 e a da seção de 2013 a 2014. Durante esse período, foi eleito para os cargos de ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de membro do Conselho da Justiça Federal (CJF) e atuou nos dois órgãos como corregedor. Antes de ser nomeado ao STJ, foi desembargador no TJSC e chegou a presidir o tribunal por dois anos. Em 2006, ocupou, entre 12 a 23 de janeiro, o cargo de governador de Santa Catarina, substituindo o peemedebista Luiz Henrique da Silveira.
Processo de reconhecimento de Paternidade
A vitória na Justiça de Tiago aconteceu foi nomeado diretor do Procon do estado catarinense. Antes disso, foi vereador em Florianópolis por três vezes consecutivas. Em 2008, chegou a ser o mais votado da cidade. Apesar de ter feito história no mundo político, garante não ter se espelhado no pai: “Quis seguir essa carreira por causa dos trabalhos sociais nas comunidades que sempre fui muito ativo”.
Criado pela mãe e pela avó, que era lavadeira na casa da família Mussi, o ex-vereador conta que sempre teve interesse em saber quem era seu pai. Aos 18 anos, após insistir com a avó materna, soube que era Jorge Mussi. Mas, segundo Tiago, Regina não queria contato e nunca contou aos ex-patrões quem era o pai dele. “Ela foi demitida no início da gravidez. Ninguém queria uma empregada grávida”, lembra.
Após saber a identidade do pai, o diretor do Procon ligou no gabinete de Mussi e se apresentou. Queria saber se poderiam se encontrar, se o magistrado gostaria de conversar. “Contei a história, perguntei se ele se lembrava da minha mãe. Negou. Perguntei se tinha interesse em me conhecer ou fazer o exame de DNA, mas ele também não quis”.
Ministro nunca pagou pensão
Após o falecimento da avó materna, Tiago decidiu procurar seus direitos. Na época, conta, Mussi era o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. “Era ele quem designava o juiz. Com isso, meu processo ficou suspenso por dois anos para que uma testemunha nos Estados Unidos fosse ouvida. E ela nunca falou”, explica. “Duvido que se ele não fosse o presidente do tribunal isso teria ocorrido”, denuncia.
Em 2018, Tiago venceu a ação. No entanto, a relação entre os dois não mudou. De acordo com o ex-vereador, o pai nunca o procurou ou pagou pensão, nem assumiu qualquer outra despesa referente à criação dele ou da gravidez da mãe.
Agora, com 37 anos, Tiago não alimenta mais o sonho de um dia criar uma relação com o pai. Entretanto, espera que, como magistrado, ele faça o seu próprio julgamento: “Eu sempre digo que o telefone um dia pode tocar. Mas não tocou”. Para o ex-vereador, o fato de Mussi ser uma figura pública não muda em nada a busca dele pela paternidade. “Eu exalto os Silvas de todo Brasil. Inclusive não uso o Mussi”.
Neste mês, Mussi foi escolhido vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tiago relata que, apesar de ter a paternidade assegurada, ele não foi convidado para a cerimônia. Veja o post onde ele relata o fato, escrito no Dia das Mães:
Homenagem à mãe
Num domingo de maio de 2020, o ex-vereador fez um relato emocionado em que homenageia a mãe, conta sua história e diz não ter sido convidado para a nomeação do pai no STJ.
“Me tornei, nos documentos, Tiago Silva Mussi. Porém, muitas pessoas que acompanharam essa luta me questionam porque não assino usando o Mussi. Me sinto mais confortável sendo um Silva. Somos um país construído por Silvas. Muitos, inclusive, sem pai, mas a maioria honesto e ético”, escreveu.
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