Tela de Tarsila do Amaral tem sua autenticidade confirmada após perícia técnica e certificação do novo Comitê da artista

Tela de Tarsila do Amaral tem sua autenticidade confirmada após perícia técnica e certificação do novo Comitê da artista

Tela de Tarsila do Amaral tem sua autenticidade confirmada após perícia técnica e certificação do novo Comitê da artista

Nova obra descoberta, que estava no Líbano até meados de 2023, trata-se de uma pintura datada de 1925 que retrata uma paisagem da valorizada fase Pau-Brasil da artista. Tela está avaliada em R$60 milhões de reais, a mais cara obra negociada da artista na história

A OMA Galeria e a Tarsila S.A. comunicam que uma nova obra inédita de Tarsila do Amaral (1886 – 1973) foi descoberta. A tela foi submetida à perícia técnica após suspeita de falsificação, por meio de acusações infundadas durante o mês de abril deste ano. Douglas Quintale – perito no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, sócio-proprietário do Quintale Art Law e presidente do Comitê de Autenticação de Obras de Tarsila do Amaral e, inclusive, único perito autorizado pela Tarsila S.A. para certificar trabalhos da artista – foi o responsável por conduzir todo o processo de certificação da nova obra, identificada como “Paisagem 1925”.

Trata-se de uma pintura datada de 1925 que retrata uma paisagem da valorizada fase Pau-Brasil da artista. De caráter nacionalista e influência cubista, que vai de 1924 a 1928, durante essa fase, Tarsila do Amaral estava retornando de Paris – ainda no auge do modernismo europeu – para morar nas fazendas de sua família no interior de São Paulo. Foi lá que a artista começou a pintar paisagens típicas brasileiras.

A década de 1920 é considerada a fase mais valiosa das obras de Tarsila do Amaral, uma vez que compreende o estopim do modernismo brasileiro, o exagero de formas, as cores que se misturam às paisagens e, principalmente, os cenários e estereótipos tipicamente brasileiros. Em seus trabalhos é possível perceber as nuances das mudanças que ocorreram no Brasil. Com seu estilo de pintura, Tarsila se coloca no papel de observadora do que estava acontecendo naquele determinado momento – cada obra representa uma observação, como se a artista estivesse nos mostrando aquilo que estava bem a sua frente.

“Tarsila é uma artista que produziu muito pouco em vida; existem menos de 200 pinturas catalogadas. É uma produção muito escassa. Desta forma, poder revelar uma obra inédita significa aumentar o alcance de todo o trabalho da artista. É um patrimônio nacional que agora será descoberto pelo mundo todo”, explica Thomaz Pacheco, fundador da OMA Galeria, que coordenou a certificação da nova obra.

Sobre o caso

O caso complexo veio à tona durante o mês de abril deste ano, após acusações infundadas questionando a autenticidade da obra, que foi vista, pessoalmente, por menos de dez pessoas. “Atualmente, é impossível, por mais que uma pessoa conheça obras de arte ou a produção de um artista, dizer se uma obra é falsa ou verdadeira apenas pelo aspecto plástico ou exame visual. São disciplinas e ciências afins que vão comprovar e corroborar premissas para uma conclusão objetiva. Meu interesse não é em relação ao proprietário ou à galeria que o representa, a minha preocupação é em relação à família e ao patrimônio artístico universal que a Tarsila do Amaral representa. Certificar uma obra de forma errada pode destruir um patrimônio autêntico ou levar o mercado a um engano. É uma grande responsabilidade e o processo tem de ser feito da forma mais transparente possível e sem conflitos de interesse”, afirma Douglas Quintale, chamado pela família da pintora para conduzir o processo de avaliação e certificação da obra.

O escândalo tomou proporção nacional e internacional, até pelo fato da obra não constar no catálogo raisonné de Tarsila. Mas a ausência de determinada pintura no documento não a qualifica como sendo falsa. A tela não estava no Brasil durante a produção de seu catálogo. Coube à ciência dizer se ela é legítima ou não, poupando opiniões sem embasamentos. Foi quando os herdeiros de Tarsila deram uma reviravolta no processo de autenticação de obras da artista. Paola Montenegro, gestora da Tarsila S.A. e, atualmente, responsável por modernizar a imagem da artista e tomar decisões sobre o legado de suas obras, chamou Douglas Quintale – único perito autorizado pela Tarsila S.A. para certificar trabalhos da artista – para conduzir todo o processo de análise e, posteriormente, a certificação formal.

Para Paola Montenegro as dificuldades para autenticar uma obra da maior pintora brasileira ficaram superadas com a criação recente do Projeto de Certificação e Catalogação de Tarsila do Amaral. “Agora, temos as ferramentas da ciência, a expertise de peritos técnicos do nível de Douglas Quintale e a integridade de um Comitê de Certificação. Estes três elementos combinados conseguem viabilizar um resultado inquestionável, em curto espaço de tempo e evita a interferência de terceiros”, pontua Montenegro.

Durante a segunda quinzena de agosto, foi emitido e comunicado à OMA Galeria, ao proprietário da tela e à Tarsila S.A. o resultado da perícia técnica, assegurando a autenticidade da obra.

Sobre o proprietário da obra

O proprietário da nova obra revelada, “Paisagem 1925”, é Moisés Mikhael Abou Jnaid, brasileiro-libanês com dupla nacionalidade. A tela foi um presente do pai de Moisés, Mikael Mehlem Abouij Naid, para sua futura esposa, Beatriz Maluf, em comemoração ao matrimônio, que ocorreu em 11 de novembro de 1960, em Pirajú, São Paulo. A obra ficou no Brasil até 1976, momento em que a família resolveu voltar à Zahle, terceira maior cidade do Líbano, após o falecimento da matriarca da família, levando o quadro junto aos demais pertences da família; que sobreviveu aos bombardeios israelenses e sírios no país entre 1980 e 1982, apesar da casa onde moravam ter sido atingida e completamente destruída nessas ocasiões. Foi apenas em dezembro de 2023 que a tela desembarcou definitivamente no Brasil.

“O presente que a minha mãe recebeu de casamento sempre ficou em Zahle – levamos a obra como bagagem acompanhada; é normal isso para algo que até então não tinha um valor expressivo. E no retorno ao Brasil, no ano passado, ela também veio como bagagem acompanhada, uma vez que não tínhamos nenhum documento de autenticidade da obra. A tela tem um valor simbólico e emocional para mim e para a minha família, pois está conosco desde muito tempo, mas reitero que foi um presente do meu pai para minha mãe, e passado de geração para geração. Até então, não tínhamos ciência do valor estimado desta obra e não havíamos pensado em trazê-la ao Brasil tão cedo. Foi com a eclosão da guerra entre Israel e Hammas – e por conta de possíveis desdobramentos desastrosos no Líbano, como estamos vendo acontecer agora -, que achamos que seria o momento ideal de trazê-la ao Brasil. Trata-se da repatriação de um produto brasileiro, que até então é um bem de uso doméstico. Tão logo foi confirmada a autenticidade da obra, informamos imediatamente a Receita Federal e o Iphan – isso é uma honra para minha família.”, detalha Moisés Mikhael Abou Jnaid.

Thomaz Pacheco ainda comenta: “Me sinto muito honrado ao participar desse processo. Sempre tive o sonho de deixar um legado através do meu trabalho. Conseguir legitimar uma obra nova de Tarsila do Amaral é um legado para o Brasil – é aumentar o reconhecimento da produção da principal artista brasileira e a segunda maior artista da América Latina. É um dos maiores nomes do mundo. Estou em paz e com o sentimento de gratidão por ter passado por tudo isso”.

Share this post

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *