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Crise econômica e insegurança levam brasileiros a migrarem par outros países

Muitos brasileiros estão vendendo tudo, fazendo as malas e indo para o aeroporto só com uma passagem de ida. O número de pessoas que estão saindo do país abruptamente cresce cada vez mais.

Segundo a Receita Federal, pouco mais de 18,5 mil brasileiros deixaram o país em definitivo no último ano, mais do que o dobro dos quase 8 mil que foram viver no exterior em 2011.

Brasileiros com carreiras consolidadas, casa própria e vida estável estão abrindo mão de tudo isso para morar em países europeus ou norte-americanos. São pessoas em busca de melhor qualidade de vida ou de melhores oportunidades.

Alguns, com excelente condição financeira, conseguem manter os negócios no Brasil enquanto vivem fora. Mas há uma classe média brasileira considerável que deixa o país para começar tudo do zero no exterior.

MaCson Queiroz JP, diretor da M.Quality, empresa brasileira especializada em intercâmbio, imigração e negócios na Austrália, define o perfil do brasileiro que se muda de vez para Austrália como “um profissional com nível universitário, pertencente às classes A/B, na faixa etária de 30 a 48 anos, casado, um filho e com nível de inglês avançado”.

Para ele, a insegurança no Brasil estimula a decisão. “Estes brasileiros não suportam o nível de insegurança vivido hoje no país e não querem que os filhos cresçam em um ambiente de violência como está agora. Estão, de maneira geral, desiludidos com o Brasil do futuro. Esses profissionais aceitam até mesmo reiniciar as suas carreiras em troca de uma qualidade de vida superior”.

Na Austrália, áreas como engenharia, computação, contabilidade, saúde e educação oferecem boas oportunidades para os brasileiros, desde que eles tenham uma experiência profissional superior a 3 anos e saibam falar inglês.

Canadá lidera a preferência

Mas, é o Canadá o preferido. Em 2021,  11.425 brasileiros que se tornaram residentes permanentes, neste país, um aumento de 116% em relação aos 5.290 de 2019, último ano antes da pandemia.

O aumento fez com que o Brasil se tornasse o sétimo país que mais exportou residentes permanentes no ano passado.

Segundo dados do órgão de imigração canadense, o Immigration, Refugees and Citizenship Canada (IRCC), em 2020 o Brasil já começava a se destacar, mesmo diante do recuo generalizado na imigração causado pela pandemia.

Naquele ano, os brasileiros apareceram pela primeira vez na lista das dez nacionalidades que mais imigraram para o Canadá, na 9ª posição, com 3.695 residências permanentes concedidas. Neste ano, até 17 de julho, já são 4.110.

“A crise econômica e a violência no Brasil são elementos centrais que motivam a saída do país. Soma-se a esse contexto a polarização política, que faz com que as pessoas tenham cada vez menos confiança no futuro do Brasil”, aponta Leonardo Paz, analista de Inteligência Qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Curso de nível superior é porta de entrada para outro país

Fazer um curso de nível superior é o caminho escolhido por 43,5% brasileiros que se tornaram residentes permanentes no país em 2021, segundo o IRCC.

Isso porque, além de preparar o estudante para o mercado de trabalho local, um diploma canadense conta pontos no Express Entry, sistema online do governo que avalia os candidatos a imigrantes.

A pontuação leva em conta fatores como idade, nível de inglês e francês, formação acadêmica e trajetória profissional para escolher quem receberá a residência permanente.

“Cada vez mais, o Canadá prioriza quem estudou e trabalhou no país. Na visão do governo, essas pessoas já estão inseridas na cultura local, suprindo a necessidade de mão de obra”, afirma Camilla Lopes, diretora da agência de intercâmbio educacional Hi Bonjour, que levou mais de 5 mil brasileiros para o Canadá desde 2013.

Para atrair estudantes internacionais, o Canadá concede permissão de trabalho em meio período durante os estudos. Além disso, o cônjuge pode trabalhar em período integral, e os filhos têm acesso à escola pública gratuita.

Os benefícios permitem que as famílias consigam ter renda em dólares para cobrir as despesas do dia-a-dia.

Ao concluir o curso, o estudante tem direito ao Post-Graduation Work Permit (PGWP), por exemplo, a permissão para trabalhar em tempo integral no Canadá se dá por até mais três anos.

“É geralmente neste período que a residência permanente é conquistada”, ressalta Lopes.

Muitos imigrantes, porém, desistem e voltam para o Brasil. Os motivos incluem não aguentar a rotina pesada ou ver as economias em reais acabarem.

Custo alto

Imigrar através dos estudos exige investimento financeiro. Um curso de dois anos em uma faculdade pode chegar a cerca de R$ 150 mil, fora as despesas com documentação, passagens aéreas, aluguel de moradia, mobília e roupas de inverno, entre outras.

Jovens em busca de oportunidades

Segundo a consultora de imigração Juliana Klapouch, não só famílias que desejam criar os filhos em um local seguro buscam o país.

“Hoje, vejo também jovens talentos que não estão tendo oportunidades profissionais no Brasil e querem aproveitar as que são oferecidas por um país de primeiro mundo”, constata a sócia da Klaps Immigration Consulting.

Canadá quer 1,2 milhão de novos imigrantes

Para atrair cada vez mais estrangeiros, o país oferece cerca de 70 modalidades de imigração voltadas para diferentes perfis.

“O Canadá é uma sociedade multicultural e que entende a importância dos imigrantes para a prosperidade do país”, afirma Kaplouch.

Ela explica que, além dos programas federais, há os das Províncias, que selecionam candidatos de acordo com a necessidade local de mão de obra.

Em fevereiro, o ministro de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, Sean Fraser, apresentou um novo plano com a meta de receber 1,2 milhão de pessoas até 2023, 20% a mais do que o objetivo para 2020.

Segundo dados de 2020 do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, os Estados Unidos ainda são o destino principal de brasileiros que vão morar fora, com 1,77 milhão de pessoas com green card.

O Canadá aparece em nono entre as maiores comunidades brasileiras no exterior, com 121 mil residentes permanentes, mas a tendência de crescimento chama atenção.

“O Canadá facilita a imigração, ao contrário dos Estados Unidos. Durante o período do governo Trump, houve um endurecimento muito forte das políticas para imigrantes. E o governo Biden, diferentemente do que se imaginava, não desarticulou essas políticas; tentou limitar só um pouco as mais violentas, como a de separar pais e filhos em centros de detenção de imigrantes”, explica Paz.

 

POR: Rita Moraes
Publicado em 14/08/2022