Mais de duas toneladas de resíduos sólidos foram coletados durante o Afropunk Bahia

Mais de duas toneladas de resíduos sólidos foram coletados durante o Afropunk Bahia

Enquanto o público se divertia nos dois dias do festival de cultura negra Afropunk, que aconteceu no Parque de Exposições de Salvador, uma equipe de 28 catadores de materiais recicláveis realizava a triagem dos resíduos sólidos produzidos durante o evento. A catação de latinhas de cerveja não é incomum para quem frequenta festas de largo em Salvador. Mas o trabalho realizado durante o festival se difere pelo planejamento, sistematização e amplitude das ações socioambientais.

Ao todo, foram coletados 2.245 quilos de resíduos produzidos nos dois dias de festival. Entre os materiais coletados, estão metal, papelão, plástico, vidro e mais de 100 litros de óleo de fritura da praça de alimentação. O trabalho realizado pela cooperativa CAMAPET integra as ações propostas pela empresa Seu Evento Sustentável, contratada para pensar soluções e serviços de redução dos  impactos ambientais e promoção de uma cultura sustentável para o público do evento.

“Além da destinação adequada aos resíduos, esse trabalho garantiu um lugar de destaque e valorização para os catadores de materiais recicláveis. Os cooperados realizaram o processo de tratamento e separação dos resíduos em condições seguras de trabalho e o público pôde acompanhar isso acontecer durante o festival, o que de certo modo, contribui para o processo de educação para a sustentabilidade”, avalia Leide Laje, idealizadora da Seu Evento Sustentável.

Segundo ela, o material coletado durante o evento agora volta para a indústria através do processo de reciclagem. “O óleo vai para a produção de sabão e os banners do evento serão encaminhados para uma ONG que trabalha com costura solidária e servirão de matéria prima para confecção de ecobags, aventais e carteiras”, completa a arquiteta. Durante o evento, produtos feitos a partir de resíduos estiveram em exposição no stand da cooperativa.

Sem o trabalho realizado pela cooperativa, possivelmente, maior parte dos resíduos coletados iriam para o aterro sanitário municipal, já que os catadores de material reciclável autônomos coletam apenas as latinhas, pois possuem maior valor comercial. Para garantir a coleta e adequada destinação de todos os resíduos produzidos no festival, o trabalho da CAMAPET começou muito antes da abertura dos portões para o público. Os cooperados também coletaram os resíduos da preparação para o festival, a exemplo das embalagens dos packs de cerveja e dos alimentos que seriam vendidos.

Além das ações de gestão de resíduos sólidos – o trabalho da cooperativa, a compostagem bioacelerada dos resíduos orgânicos da praça de alimentação e o uso de copos reutilizáveis pela equipe de produção -,  a consultoria realizada pela Seu Evento Sustentável previu ações de educação ambiental. Temas como coleta seletiva, redução do uso de plásticos e legislação sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos foram discutidos com a organização do evento, expositores de alimentos, equipes de limpeza e bares que atuaram durante o festival.

“Precisávamos garantir que todas as pessoas trabalhando no evento estivessem conscientes sobre os impactos ambientais das suas ações, da importância do descarte correto e das responsabilidades que eles tinham. Assim todos poderiam contribuir para as ações de sustentabilidade dentro de sua respectiva área de atuação”, conta Laís Lage, engenheira ambiental e sanitarista que realizou o trabalho de conscientização.

Ela destaca ainda que a educação das pessoas é uma das grandes barreiras para a efetivação de ações concretas de sustentabilidade e que faltam medidas concretas das autoridades para fazer valer a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que responsabiliza os geradores pelos seus resíduos e se aplica aos organizadores de eventos e grandes festivais.

“Mesmo havendo muitas lixeiras identificadas com o tipo de material a ser descartado, muitas pessoas jogavam os resíduos no chão ou no recipiente incorreto. Mas, diferente do que acontece na maioria dos eventos, com o trabalho feito no Afropunk Bahia conseguimos evitar que mais de duas toneladas de resíduos fossem desperdiçadas ao serem enviadas para o aterro de Salvador”, conclui.

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