Julho sem Plástico: movimento global conscientiza sobre material que já foi encontrado na corrente sanguínea
Em suas variadas formas, atendendo a diferentes necessidades, a produção de plástico não para de crescer. Com implicações visíveis no meio ambiente, o material que pode levar até 400 anos para se decompor tem sido encontrado num formato que foge aos olhos, o microplástico, pedaço com até cinco milímetros e que já foi identificado no sangue de seres humanos. Em atenção ao impacto no meio ambiente, durante o mês de julho, entidades e organizações ambientalistas lançam luz para a necessidade de reduzir o uso do material, em especial dos descartáveis de uso único, e não são poucas as razões para isso.
O Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico em todo o mundo e, apenas, 1,2% desse resíduo é reciclado, de acordo com o Fundo Mundial para a Natureza. Somente em copos, são produzidas 100 mil toneladas por ano sem que haja reciclagem satisfatória. Segundo a Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana e Resíduos Especiais – Abrelpe, 70% dos resíduos encontrados nos mares brasileiros são plásticos. E além da grande concentração em lixo visível, os microplásticos estão por toda parte, podendo ser incorporado na alimentação humana por meio de frutos do mar contaminados.
“Enquanto o Brasil continuar produzindo toneladas de plástico por ano, haverá poluição ambiental e graves consequências causadas pelo lento processo de decomposição do plástico, como já podemos observar apenas ao ir à praia. Por isso precisamos solucionar estes impactos ambientais diretamente na raiz do problema”, adverte a engenheira ambiental e sanitarista Laís Lage.
Para ela, é necessário cobrar das marcas produtos sem microplásticos na composição e opções de embalagens sem plástico, bem como demandar dos parlamentares projetos de lei que visem reduzir a produção de plásticos e a proibição de itens descartáveis de uso único, como já acontece em alguns municípios brasileiros, a exemplo de São Paulo, onde os estabelecimentos são proibidos de fornecer utensílios como copos, facas, garfos e pratos descartáveis.
Quando o plástico é abandonado, começa a se degradar lentamente até virar pequenas partículas, podendo se transformar em algo ainda menor, o nanoplástico. É esse minúsculo resquício que entra com facilidade no corpo humano, como aponta um estudo da Vrije Universiteit Amsterdam, na Holanda. A pesquisa mostra como o material tem capacidade de se movimentar pelo corpo e se alojar em órgãos. Mesmo o impacto na saúde sendo desconhecido, os cientistas estão temerosos pois em laboratório, os microplásticos causam danos às células humanas.
Durante este mês, o movimento mundial iniciado em 2011 na Austrália, #JulhoSemPlástico, aposta na conscientização para diminuir o uso de plástico nas rotinas diárias. Adepta da campanha, a loja Saravá Sustentável, idealizada por Laís Lage, participa pelo terceiro ano consecutivo intensificando as ações de educação ambiental. Para a engenheira, a campanha é fundamental pois ajuda as pessoas a despertarem a mudança de atitude.
“Nosso objetivo é que o ato de não consumir mais plásticos descartáveis seja o novo normal. Essa mudança é necessária e urgente. Além de ser uma ação cidadã, se responsabilizar pelo próprio resíduo gerado, é lei”, explica a empreendedora em referência à Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Já temos relatos de pessoas que começaram a separar os resíduos e reutilizar potes de vidros para compras a granel por conta de nossas postagens nas redes sociais”, completa.
Com alternativas para o crescente consumo de plásticos descartáveis, a Saravá Sustentável possui uma variedade de produtos reutilizáveis, como talheres e escova de dente de bambu, canudos de inox, copos de silicone, ecodiscos de crochê para substituir o algodão, absorventes de pano, calcinhas absorventes, coletor e disco menstrual.
Alguns desses materiais são compostáveis, como os utensílios de bambu, bucha vegetal e as próprias embalagens, que podem ser enterradas e se decompõem em alguns meses. A empresa também trabalha com upcycling, que é a transformação de resíduos em novos produtos, como é o caso dos saquinhos para compras de hortifruti, feitos por uma artesã a partir de redes de pesca resgatadas do mar.
O que é a Saravá Sustentável?
A Saravá Sustentável foi idealizada em 2016, quando Laís Lage não conseguia encontrar estabelecimentos em Salvador com apelo voltado à sustentabilidade, que vendessem produtos reutilizáveis do Kit Desperdício Zero – estojo com talheres de bambu, canudos de inox, guardanapos de tecido, etc. para evitar o uso de descartáveis na rua.
Só em agosto de 2019 a marca foi lançada. A empresa tem o propósito de mostrar às pessoas que existem alternativas para recusar e substituir o uso de materiais que causem impactos ao meio ambiente. Através de produtos e informações, a marca fortalece a educação ambiental e a economia local, por meio de uma curadoria com fornecedores soteropolitanos e de outros estados do Brasil, alinhados com o mesmo propósito da Saravá, de não gerar descartes que possam causar impactos ambientais negativos a partir dos produtos ou de suas embalagens.
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