Judeus se unem aos árabes em manifestação contra violência
Neste domingo, 6, em Tel Aviv, milhares de judeus se uniram aos árabes em uma manifestação contra a crescente e aterrorizante onda de violência que atinge áreas onde vive a comunidade árabe em Israel.
A união é um sinal de solidariedade ao direito básico de segurança e à vida, algo que está ameaçado com casos de homicídios, cometidos por grupos criminosos. Em discursos proferidos em árabe e também em hebraico, reciprocidade, paz e atenção foram algumas das palavras que se destacaram durante o ato.
Entre janeiro e agosto deste ano, foram 141 assassinatos na sociedade árabe. O número já se aproxima do total de homicídios acontecidos em 2022, quando 146 pessoas foram vitimadas.
O cenário motivou judeus e árabes a se unirem para protestar. “Foi um encontro muito tocante entre milhares de árabes e judeus, no centro de Tel Aviv. Este tem que ser um dos caminhos para o futuro de Israel”, afirma Gil Diesendruck, professor do departamento de psicologia da universidade Bar Ilan, em Israel.
Para Revital Poleg, colaboradora do Instituto Brasil-Israel (IBI), ex-diplomata do Ministério das Relações Exteriores de Israel, há um sentimento de desamparo por parte dos árabes-israelenses. “O sentimento de desamparo que o público árabe experimenta, combinado com a falta de ação ou ação limitada e, sobretudo, muita retórica por parte do governo, gera o desespero entre eles e uma perda total de confiança nas autoridades governamentais, trazendo a sensação de indiferença como resultado.”
Para Revital, “essa é uma perigosa reação em cadeia que afeta, em primeiro lugar e acima de tudo, a sociedade árabe, mas também a sociedade israelense inteira, e é essencial freá-la com urgência. Contudo, o que se observa é a inexistência de diálogo entre o Ministério da Segurança Nacional e os dirigentes das autoridades árabes, o que sinaliza que a questão não é prioridade do governo, mesmo sob risco de a situação se deteriorar ainda mais”.
Diversos fatores
A onda de violência nas cidades e áreas em que vivem os árabes pode ser explicada por diferentes fatores. “Ela é impulsionada pelas organizações criminosas instaladas nessas áreas, mas também em razão da falta de infraestrutura e serviços sociais nas cidades e bairros da minoria árabe de Israel, bem como da falta de confiança dos árabes nas autoridades, fruto de uma sensação de que o estado não investe ou se importa com eles. Soma-se a tudo isso a ausência de esperança dos jovens para o sucesso pessoal, com a integração no mercado de trabalho e na sociedade, de modo que alguns acabam por aproveitar qualquer oportunidade de ganhar dinheiro, mesmo que isso os leve à criminalidade”, descreve Daniela Kresch, correspondente do IBI em Israel.
“A solução para dar fim a esse cenário de violência deve ser a cooperação entre as autoridades nacionais e as lideranças árabes locais. Algo que o ex-vice-ministro da segurança pública Yoav Segalovitz estava começando a fazer, em 2021, com um plano de longo prazo que já estava dando frutos. É preciso realmente se importar com o bem-estar da minoria árabe, amar os cidadãos dessa minoria como ama os cidadãos da maioria judaica, algo que o governo atual não pensa em dar continuidade e não tem a menor capacidade de fazer”, ressalta Daniela.