Irmã Adélia é reconhecida como ‘Serva de Deus’ pelo Vaticano
A freira pernambucana da Ordem das Religiosas da Instrução Cristã, as Damas, Irmã Adélia foi reconhecida pelo Vaticano como “Serva de Deus”. Está é a primeira etapa para se iniciar o processo de beatificação e canonização. A notícia foi celebrada pelo Instituto das Religiosas da Instrução Cristã.
“Recebemos com muita alegria a notícia que nossa querida irmã Adélia foi reconhecida como serva de Deus, muita gratidão ao nosso bondoso e misericordioso Deus, até porque esse é o desejo do povo de Deus, de toda diocese de Pesqueira, de nós religiosas da Instrução Cristã que com vibração e entusiasmo acolhemos ontem esse anúncio. O reconhecimento veio no dia da Cátedra de São Pedro, tudo com muito significado e sentido”, disse Irmã Cleonice Aparecida dos Santos, Superiora Provincial do Brasil.
Escutas de testemunhas
No próximo dia 10 de março, será instaurado do Tribunal para as escutas das testemunhas que tiveram esse contato com a Irmã Adélia, que vão dar prosseguimento ao processo. Esta celebração será no Colégio Damas , após a instauração será celebrada missa presidida por Dom Luís Sales, bispo da diocese de Pesqueira. Para divulgar a vida de Irmã Adélia, todo dia 13 de cada mês acontece missa no Colégio Damas, data que relembra o dia de morte de Irmã Adélia.
A documentação sobre a Irmã Adélia foi enviada ao Vaticano pela Diocese de Pesqueira e está na Congregação para a Causa dos Santos. É esta Congregação que, examinando a documentação, declara o candidato como Servo de Deus, abrindo o processo para que ele possa se tornar Venerável, Beato e, depois, Santo. A beatificação, porém, só ocorre após a comprovação de um milagre.
Aparição de Nossa Senhora em Cimbres
No dia 6 de agosto de 1936, na Aldeia Guarda, no povoado de Cimbres, em Pesqueira, Agreste de Pernambuco, Maria da Luz Teixeira de Carvalho, conhecida como Irmã Adélia, e a amiga Maria da Conceição receberam pela primeira vez a visita de Nossa Senhora. Adolescentes na época, as duas catavam sementes de mamona quando foram tomadas pelo medo de serem atacadas pelo cangaceiro Lampião e o bando dele, que agiam na região com roubos e assassinatos.
“O que você faria se agora mesmo chegasse aqui Lampião?”, questionou Maria da Luz. De pronto, Maria da Conceição respondeu: “Nossa Senhora haveria de dar um jeito de nos proteger”. Para a surpresa delas, viram no alto da serra a imagem de uma mulher muito bonita com uma criança nos braços. Com a mão desocupada, a moça chamou as meninas para se aproximarem. Elas subiram correndo e permaneceram com Ela por um tempo até voltarem para casa impressionadas.
Quando chegaram à residência, contaram a história para os pais de Maria da Luz, Arthur Teixeira de Carvalho e Auta Monteiro de Carvalho. Inicialmente, os dois não acreditaram e Arthur foi com as meninas até o local da aparição, que era de difícil acesso. Chegando lá, as duas viram novamente a mulher. Sem conseguir enxergar e achando que era alucinação das garotas, o pai de Maria da Luz pediu que ela perguntasse para a moça quem era Ela e o que queria. “Eu sou a Graça”, respondeu. “Vim para avisar que hão de vir 3 castigos mandados por Deus. Diga ao povo que reze e faça penitência”, completou. Desde então, as duas não pararam de ver a imagem.
Não demorou muito para a história se espalhar e o local virar lugar de peregrinação e oração, o que ocorre até os dias atuais. Muitos foram os sinais da presença de Nossa Senhora e relatos de milagres.
Maria da Luz nasceu no dia 16 de dezembro de 1922, em Pesqueira, e recebeu o nome de Irmã Adélia ao entrar para o Instituto das Religiosas da Instrução Cristã. Os votos perpétuos foram professados em 1946. Ir. Adélia optou pelo silêncio em relação às aparições até 1985, quando resolveu reunir as religiosas da congregação para partilhar a experiência que teve com Nossa Senhora. Ela resolveu dar o testemunho porque estava com câncer, com metástase no fígado, e achava que tinha pouco tempo de vida.
Nessa época, a vida dela passou a ser na enfermaria da comunidade, de onde continuou o sacrifício na oração e no silêncio, no despojamento e na oferta de sua vida.
Passadas algumas semanas da revelação, Ir. Adélia foi com um grupo de irmãs para o local das aparições. Durante as orações, pediu que se fosse da vontade da Mãe do Céu que aquelas aparições fossem divulgadas, que Ela lhe desse, então, a cura. Foi o que ocorreu. Os novos exames realizados mostraram que não tinha mais câncer.
Simples e humilde
Irmã Adélia dedicou sua vida a transmitir o Evangelho, ajudar os pobres e rezar pelos sacerdotes. Servir os empobrecidos foi a sua grande missão, deixando um belo legado na favela de Santa Luzia, no bairro da Torre, no Recife.
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo foi o caminho trilhado por Ir. Adélia até o fim. Viveu intensamente as virtudes cristãs, sempre caridosa, obediente e em oração. Não media esforços para interceder por quem a procurasse.
Última mensagem
Em um dos últimos depoimentos, Ir. Adélia deixou uma mensagem: “Nossa Senhora quer que os jovens sejam corajosos para vencer. Amar o próximo como a si mesmo. Diversas vezes, Ela me arrancou das mãos dos inimigos. Estou esperando a vez que Ela me leve para o céu. Estou esperando esse momento para que eu veja o céu aberto”. Esse dia chegou em 13 de outubro de 2013, no Recife, quando Ir. Adélia, aos 90 anos, foi acolhida por Deus para celebrar a sua Páscoa definitiva.