I Festival do Acarajé de Itaparica destaca empoderamento e resistência da mulher negra

I Festival do Acarajé de Itaparica destaca empoderamento e resistência da mulher negra

 

Especialidade da culinária brasileira, especialmente na Bahia, o acarajé é muito mais que uma deliciosa iguaria. É um símbolo de resistência da cultura afro-brasileira e representa a importante contribuição das mulheres pretas, não apenas na gastronomia, mas também na construção social do país, desde o período da escravidão, pelas mãos das ganhadeiras, que hoje são conhecidas como baianas de acarajé.

 

 

Em homenagem à essas mulheres que são símbolo de tradição, ancestralidade empoderamento e empreendedorismo feminino negro, o Dia da Baiana do Acarajé, celebrado no dia 25 de novembro (sábado), será comemorado, em Itaparica, com a realização do I Festival do Acarajé. O objetivo é promover a cultura baiana através da gastronomia, reunindo os mais diversos amantes do quitute, e exaltar o ofício das baianas de acarajé que é considerado um patrimônio histórico cultural brasileiro.

Aula show – Durante o evento, as mulheres itaparicanas terão a oportunidade de aprender as técnicas e os segredos da preparação do famoso bolinho feito de massa de feijão fradinho frito no azeite de dendê, em uma aula show que aberta ao público, que será convidado a colocar a mão na massa. O festival ainda prevê atividades culturais, como apresentações de grupos de roda de samba e capoeira.  O I Festival do Acarajé de Itaparica integra a programação em comemoração do Novembro Negro da cidade.

O acarajé é uma das comidas de rua mais antigas do Brasil e sua comercialização teve início há quase 300 anos durante o período da escravidão, segundo a presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Rita Santos. A receita foi trazida da África pelos negros escravizados do Benin e da Nigéria, com o nome de “Acará”, e logo ganhou as ruas dos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Recife. Na época, mulheres negras escravizadas usavam o dinheiro da venda dos quitutes para comprar a sua própria alforria.

Tradição e sustento – Após a abolição da escravidão, o acarajé passou a ser oferenda nos terreiros de candomblé, e seu significado na culinária e cultura popular brasileira são indissociáveis das baianas, que continuam perpetuando a tradição africana e ganhando o sustento de suas famílias através da venda da iguaria.

Baiana de acarajé há mais de 40 anos, Beth Santana, de 60 anos, uma das mentoras do Festival, tem orgulho de ser baiana e de poder repassar o conhecimento do ofício. “Criei os meus três filhos e construí praticamente toda a minha vida com o dinheiro do acarajé. Tenho muito orgulho disso. É importante continuar repassando esse conhecimento para perpetuar a tradição e ajudar outras mulheres que queiram fazer do bolinho uma fonte de renda”, diz.

Patrimônio cultural – O ofício das baianas de acarajé foi registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) em 2005 no Livro dos Saberes. Em 2012, as baianas de acarajé foram reconhecidas como Patrimônio Imaterial da Bahia e seu ofício entrou para o livro de Registro Especial dos Saberes e Modos de Fazer do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

Segundo a presidente da ABAM, Rita Santos, a venda do acarajé está atrelada à religião de matriz africana. Embora possa ser vendido por pessoas que não sejam adeptas das religiões de matriz africana, desde que sejam cumpridas as regras previstas no decreto do IPHAN no que diz respeito à indumentária. “A baiana do acarajé tem direitos e obrigações. A baiana só é considerada patrimônio se ela seguir as regras do patrimônio e deve estar na rua saia, bata e torço. Senão, ela é meramente uma vendedora de bolinho ”, afirma.

Mais Novembro Negro – O I Festival de Acarajé de Itaparica integra à programação pelas comemorações do Novembro Negro em Itaparica, que teve início no último dia 18 (sábado) com a realização do I Encontro dos Povos de Terreiros de Itaparica. Desde ontem (21) até amanhã (23), acontece a Caravana LóLá Odara, com serviços, ações culturais, sociais e atendimentos em saúde, como palestras, oficinas de tranças, cadastros e regularização no programa Bolsa Família, emissão de carteira de identidade e atendimento no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). A população também vai poder realizar consultas com médico clínico e ter atendimento de fisioterapia, nutrição e odontologia, além de realizar atualizar a caderneta vacinal e realizar exames.

A última atividade será dia 29 (quarta-feira), quando as ruas da cidade serão tomadas pela V Caminhada Contra a Intolerância Religiosa, no combate a todo e qualquer tipo de racismo, reafirmando a luta do povo de terreiros pela democracia, pela liberdade, pela diversidade e pelo estado laico. A concentração será na Praça das Amoreiras, a partir das 14h, com saída prevista às 15h. Os participantes percorrerão as principais ruas de Itaparica em direção ao Mercado Municipal, onde ocorrerá um ritual do xirê.

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