González diz que decidiu deixar Venezuela após ouvir ameaça: ‘Estão vindo atrás de você’
“Eles estão vindo atrás de você”: segundo Edmundo González, candidato da oposição na Venezuela, esse foi o alerta que o fez decidir deixar seu país e buscar asilo político na Espanha.
Em entrevista à agência de notícias Reuters nesta sexta-feira, 20, em Madri, o venezuelano, que recentemente foi reconhecido como o presidente eleito pelo Congresso espanhol e pelo Parlamento Europeu, contou que estava ameaçado pelas forças de segurança que apoiam Nicolás Maduro e disse acreditar que, se tivesse permanecido no país, estaria preso e, possivelmente, sob tortura.
Edmundo González (ao fundo) na embaixada da Espanha em Caracasm, acompanhado da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez (à esq), e do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez (careca), assinando documento reconhecendo vitória de Maduro na eleição. Assinatura ocorreu no início de setembro
A assinatura do documento, ocorrida na embaixada espanhola em Caracas, onde González estava escondido, ocorreu na presença do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente, Delcy Rodríguez –ambos aliados de Maduro.
González disse que o documento permitiria sua saída do país e que não teve opção senão o assinar. “Ou eu assinava ou sofria as consequências. Foram horas muito tensas de coação, chantagem e pressões”, disse. Quando chegou à Espanha, González disse que deixou a Venezuela para evitar um conflito.
“Um oficial de segurança que trabalhava comigo me chamou de lado para dizer que tinha recebido informações de que os órgãos de segurança estavam vindo atrás de mim e que era melhor me refugiar. Eu poderia ter me escondido, mas precisava ser livre para poder fazer o que estou fazendo, transmitindo ao mundo o que está acontecendo na Venezuela, fazendo contatos com líderes mundiais”, disse ele.
González também contou que deixou a Venezuela depois de obter garantias de que sua família e seus bens estariam seguros e disse estar confiante de que uma transferência pacífica de poder ainda é possível no país, com ele como a pessoa para liderá-la.
“Quero garantir que a vontade dos 8 milhões de venezuelanos que votaram em mim em 28 de julho seja respeitada. Essa é uma decisão que já foi tomada e aspiro honrá-la totalmente”, afirmou, sobre as alegações da oposição de uma vitória esmagadora com base nas atas de votação, que não foram divulgadas.
Maduro diz que González pediu ‘clemência’
“Me dá vergonha alheia que o senhor Edmundo González Urrutia, que me pediu clemência, não tenha palavra com o que se empenhou e alegue sua própria inépcia e sua própria covardia para tentar salvar sei lá o que”, afirmou Maduro.
A fala de Maduro foi uma resposta à denúncia feita pelo opositor na quarta, de que teria sido coagido por autoridades venezuelanas para assinar o documento de aceite à decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, que deu vitória a Maduro em meio a uma polêmica de atas eleitorais.
A decisão do TSJ – instância máxima do Judiciário venezuelano e alinhado a Maduro – que reafirmou a vitória do presidente na eleição, referendando o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral, é contestada pela comunidade internacional, que também exige a publicação das atas eleitorais.
No primeiro pronunciamento após González deixar o país, o presidente Nicolás Maduro falou sobre o opositor em tom de despedida, desejou a ele “sorte em sua nova etapa da vida” e disse que agora “o país está tranquilo”. O presidente venezuelano acrescentou que ele participou pessoalmente das negociações para González deixar o país.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou, nesta quinta-feira (19), que seu adversário nas eleições presidenciais lhe pediu “clemência” para conseguir sair da Venezuela e ir para a Espanha.
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