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Artigo: Conflito em compasso de espera: dois anos da guerra Rússia-Ucrânia

 

 

No dia 24 de fevereiro de 2024 a guerra entre Rússia e Ucrânia completo dois anos. Em 2022, Vladmir Putin, o presidente da Federação Russa, tomou a decisão de ocupar o país-irmão. Para Gustavo Gumiero, que é mestre e doutor em Sociologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor dos livros “Gritos da guerra: o conflito Rússia-Ucrânia na voz das mulheres que sofrem”, que foi lançado em 2023 pela Editora Mostarda, a guerra aparentemente entrou em estado de banho-maria.

“Mas, claro, esse marasmo não está do lado das refugiadas ucranianas que tiveram de escapar do conflito logo em seu início e foram obrigadas a reiniciar a vida em outros países. Os soldados dos dois lados também não sentem nenhum tédio, têm de lutar pela sua própria sobrevivência diariamente; muito menos os habitantes da Ucrânia, que se veem diariamente constrangidos a escutar as sirenes antiaéreas e muitas vezes têm de recorrer a abrigos antimísseis”, comenta o sociólogo.

 

Segundo ele, o conflito está em compasso de espera. “2024 será marcado por eleições na Rússia – com a mais que certa vitória de Putin – e também nos Estados Unidos – com a improvável reeleição de Joe Biden. O que acontecerá se Trump, que supostamente é um aliado de Putin, sair vencedor? A Europa e a OTAN tentariam um acordo de paz antes da posse de Trump, com medo de que ele retire o apoio financeiro e militar à Ucrânia? Ou Trump tentaria intensificar o conflito, para mostrar que ele “resolve”? Não há certezas, por isso a guerra provavelmente será levada mais um ano em banho-maria, só mantendo aquecido o conflito, mas sem explodir o caldeirão”, avalia o escrito.

 

Para o sociólogo, os últimos acontecimentos “importantes” da guerra no noticiário foram a promessa do início do contra-ataque ucraniano, que teve início em meados de 2023, mas que rendeu poucos resultados efetivos; e o levante de Prigozhin, então braço direito de Putin e fundador-comandante do grupo Wagner, formado primordialmente por mercenários e ex-prisioneiros russos, também em junho daquele ano, que por apenas algumas horas ameaçou Putin e Moscou e preocupou o Ocidente. “Mas a rebelião foi rapidamente dissipada, e o conflito voltou à sua normalidade”, detalha.

 

Gustavo Gumiero relembra que no primeiro ano do conflito o mundo assistiu o início de uma reconfiguração geopolítica na região e também ao aumento da inflação, provocado pela falta de insumos (trigo, fertilizantes e gás são alguns dos commodities importados da Rússia e da Ucrânia pela maioria dos países), e a consequente disparada dos juros. “E isso sem falar das milhões de ucranianas que tiveram de deixar suas casas para escapar do conflito”, completa.

 

Na obra “Gritos da guerra: o conflito Rússia-Ucrânia na voz das mulheres que sofrem”, o autor dá voz a “pessoas comuns”, que não estão no front de batalha, que não pegaram em armas e que são sempre as mais atingidas por uma guerra. Gumiero, que esteve na região no início da guerra, coletou o depoimento de seis mulheres que tiveram suas vidas completamente mudadas assim que as tropas russas invadiram a Ucrânia. Essa visão feminina do conflito tem uma explicação. Para o sociólogo, as mulheres, mesmo estando entre as maiores vítimas de qualquer conflito armado, possuem uma força e uma resiliência surpreendentes. A elas também não escapam detalhes que podem parecer fugazes aos olhos dos homens, mas que conseguem compor um retrato mais fiel de uma guerra.

 

Sobre Gustavo Gumiero:

Gustavo Gumiero, é mestre e doutor em Sociologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor dos livros “Gritos da guerra: o conflito Rússia-Ucrânia na voz das mulheres que sofrem” (2023) e “Pandemia no Brasil. Fatos, falhas e… atos” (2022), ambos da Editora Mostarda. Para mais informações: www܂gustavogumiero܂com܂br

 

POR: Rita Moraes
Publicado em 28/02/2024