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Arquétipo Rafa reforça a diversidade da música brasileira em álbum de estreia ‘Pisa de Conversa’

 

Após antecipar os singles “Feito Ladeira” e “Me Leve”, onde ambos entregam dois lados do mesmo trabalho, Arquétipo Rafa, nome que vem ganhando destaque na cena de novos cantores e compositores pernambucanos, agora estreia seu primeiro disco solo ‘Pisa de Conversa’. Caloroso, profundo, bem humorado e muito brasileiro, o álbum chega acompanhado por um álbum visual dirigido por Patrícia Araújo.

‘Pisa de Conversa’ reúne em 09 faixas autorais uma estética que mescla a riqueza de sons brasileiros com elementos da cultura popular, especialmente de Pernambuco, marcando o resgate de Rafa às suas origens. É neste trabalho que o cantor apresenta seu lado mais pop e bem humorado. Para contar essa história, convida Alessandra Leão e Marcelo Jeneci.

“A jornada do disco passeia por um Brasil imenso. Nos últimos 8 anos, tive a oportunidade de conhecer mais profundamente nosso país, acompanhando diversos artistas como instrumentista e trouxe para meu trabalho um pouco do que colhi ao longo dessa caminhada”, explica.

Gravado durante a pandemia, projeto foi criado a partir das trocas entre Rafa e o produtor musical Arthur Dossa, que assina o álbum (exceto “Maga”, por Marcelo Jeneci), soando como uma ode à música brasileira dos anos 60/70, mas com uma pegada futurista. “Passamos muitas horas dedicados aos sons que a gente admira, ouvindo muita música brasileira, isolados, mas olhando para o mundo. Essa experiência serviu quase como um período de imersão sonora e contribuiu muito para a estética do disco”, contou Rafa.

Quem abre essa “Pisa de Conversa” é “Feito Ladeira”, primeiro single lançado, que conta com a parceria de Alessandra Leão. Ensolarada e dançante, a canção que remete às ladeiras de Olinda é cheia de dialetos e mescla referências rítmicas do maracatu nação com o xote, expondo forte presença de sintetizadores e um design sonoro que traz essa ambiência em que Rafa cresceu e viveu por tantos anos.

Logo em seguida chega “Pode Paraíso”, um samba diferente e bem humorado, onde se mistura  referências rítmicas de sambas clássicos de Cartola com uma pegada mais pernambucana na bateria. Depois, “Descalça”, faixa-foco deste disco, chama o ouvinte para o salão. É música para dançar e por isso traz células do axé e pagodão baiano, com os pífanos inspirados nas bandas de pífano do agreste pernambucano.

Liberdade, sem dúvidas, é um tema que não passa despercebido nesse álbum, como é o caso de “Deixa o Cabelo Crescer”. Com a participação de Marcelo Jeneci, que com seu timbre suave leva a música para um local de tranquilidade, a faixa é embalada por um xote mesclado com o reggae jamaicano. Ainda no mesmo tema, “Júpiter Anéis” versa sobre o tempo que podemos perder com a ilusão de posse sobre outra pessoa. A música traz as percussões de Juba Carvalho, apontando o lado terrestre e dançante da canção, trazendo, ainda, influências da estética latino-americana.

E assim como o dia, o disco vai anoitecendo e trazendo um tom mais intimista. “Me Leve”, segundo single lançado, traz o luto e a saudade como reflexão, embalada por uma melodia

que funciona como uma trilha sonora. A faixa tem os pianos de Vitor Araújo e os arranjos de cordas criados por Mateus Alves – lindamente tocados por Paula Bujes e Pedro Huff.

“No Silêncio” é aquela canção que remete a um sonho ou uma memória distante com elementos do ijexá. A música, que fala sobre a vontade de fugir da realidade com a pessoa que você ama, chega com forte presença de metais que foram arranjados por Mateus Alves. Depois do discurso de fuga, “Maga” chega propondo uma volta para a realidade e um olhar para o futuro. Essa música, produzida por Marcelo Jeneci, narra o encontro de uma mãe com a sua filha recém-nascida. É sobre ter medo do futuro, mas estar pronta para a luta. Musicalmente, a canção traz muitos elementos de design de som, alinhados com o discurso.

A faixa mais noturna, “Ávido”, é quem completa essa narrativa. Simbolicamente ela fecha o ciclo desse disco, que começa em Olinda, passeia pelo mundo, pelos sonhos, e volta pra casa. “É uma regravação de canção composta por mim, e lançada inicialmente por minha antiga banda, Gudicarmas, em Pernambuco”, conta Arquétipo Rafa. Essa nova roupagem valoriza a palavra e cria um clima sexy e elegante, dialogando com a poesia da canção.

POR: Rita Moraes
Publicado em 25/09/2023