Estreia no Rio, a peça “3 maneiras de tocar no assunto”, que aborda a homofobia
Um tema, três solos curtos. O espetáculo inédito “3 maneiras de tocar no assunto” é um manifesto artístico contra a homofobia na sociedade moderna. O ator e diretor Leonardo Netto está de volta à dramaturgia depois de “A ordem natural das coisas” – peça cujo texto levou o Prêmio Cesgranrio 2018 e foi indicado ainda aos prêmios Shell, APTR e Botequim Cultural. Com direção de Fabiano de Freitas, “3 maneiras de tocar no assunto” estreia em 3 de outubro no Teatro Poeirinha, no Rio de Janeiro, onde fica em cartaz até 22 de dezembro (de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 19h).
Interpretados por Leonardo Netto, os três solos independentes colocam em pauta questões relacionadas à homossexualidade e ao preconceito e intolerância contra o homossexual e a comunidade LGBT em geral. “Homofobia mata todo mundo: o pai que teve a orelha arrancada por beijar o filho, os irmãos que foram linchados por andarem abraçados. Não adianta achar que você está livre porque você não é gay. Estamos vivendo um retrocesso de entendimento sobre isso, um conservadorismo estúpido. A população LGBT no Brasil está alijada de quase setenta direitos previstos na Constituição”, ressalta o autor, que abordou o tema por três instâncias distintas, uma para cada texto: Escola, Lei e Estado.
No primeiro solo, O homem de uniforme escolar, o público assiste a uma aula de bullying homofóbico: o que é, como praticar e quais as suas consequências físicas e emocionais. São histórias reais de crianças e jovens que sofreram com o preconceito e a intolerância na escola.
Na sequência, O homem com a pedra na mão parte do depoimento ficcional de um dos participantes da Revolta de Stonewall, ocorrida em junho de 1969 em Nova York, marco fundamental da luta pelos direitos da comunidade LGBT, que completou 50 anos em 2019. Desenrola-se, então, uma descrição minuciosa da noite em que os frequentadores (gays, lésbicas, travestis, drag queens) do bar Stonewall Inn reagiram, pela primeira vez, a mais uma batida policial no local.
O último solo, O homem no Congresso Nacional, foi construído a partir de falas do ex-deputado federal Jean Wyllys, proferidos entre janeiro de 2011 e dezembro de 2018. Para criar o texto, Leonardo assistiu e transcreveu discursos, pronunciamentos, entrevistas e declarações do Jean e, cuidadosamente, criou o depoimento de um deputado gay e ativista na tribuna da Câmara.
Os textos propõem uma interlocução direta com o público: o que há, afinal, de tão incômodo, maléfico e repugnante na homossexualidade? Por que, através dos tempos, ela teve sempre de ser punida? Por que a orientação sexual de uma pessoa a transforma num cidadão de segunda classe, com menos direitos que o resto da população?
Para dirigir a montagem, Leonardo convidou o ator, dramaturgo e diretor Fabiano de Freitas, um artista-pesquisador dos temas LGBTI+. É a primeira vez que eles trabalham juntos. “Sempre quis trabalhar com o Dadado (apelido de Fabiano). Vi ‘O Homossexual ou a dificuldade de se expressar’, ‘Balé ralé’ (peças que abordavam a homossexualidade) e achei espetacular. Achava que ele teria o olhar perfeito para essa peça”, diz o autor. “Pesquiso e estudo esse personagem que é a bicha e sua identidade negligenciada. Essa peça fala a partir desse lugar. Quando li o texto, pensei: é parte da minha pesquisa”, conta o diretor.
Durante a temporada, estão programados três debates (datas e nomes a confirmar) após a apresentação do espetáculo, com os temas: “Maneira 1 – LGBTI+, Infância e Educação”, “Maneira 2 – As conquistas do movimento LGBTI+ na história” e “Maneira 3 – LGBTI+ e o poder”.
Leonardo Netto
É ator, diretor e dramaturgo. Formou-se pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e estudou Teoria do Teatro na UNIRIO. Estreou profissionalmente em 1989 na montagem de “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, de Oduvaldo Vianna Filho, dirigida por Amir Haddad. Integrou por três anos o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, companhia dirigida por Aderbal Freire-Filho. Trabalhou com diretores atuantes do teatro carioca, como Gilberto Gawronski, Ana Kfouri, Jefferson Miranda, João Falcão, Luiz Arthur Nunes, Enrique Diaz, Celso Nunes e Christiane Jatahy.
Seus trabalhos mais recentes incluem “Conselho de classe” (direção de Bel Garcia e Susana Ribeiro), “A Santa Joana dos matadouros” (direção de Marina Vianna e Diogo Liberano) e “Entonces bailemos” (direção de Martín Flores Cárdenas).
Em TV, atuou nas novelas “Bang-Bang” e “Paraíso tropical”, em episódios das séries “Força-tarefa”, “As canalhas”, “Questão de família” e “O caçador”. Integrou o elenco dos seriados “A garota da moto”, “Magnífica 70” e “Me chama de Bruna”. Seu trabalho mais recente é a minissérie “Assédio”, da Rede Globo. Em cinema, trabalhou no longa “Em nome da lei”, de Sérgio Rezende.
Dirigiu os espetáculos “A guerra conjugal”, de Dalton Trevisan; “Cozinha e dependências” e “Um dia como os outros”, ambos de Agnes Jaoui e Jean-Pierre Bacri; “O bom canário”, de Zacharias Helm; “Para os que estão em casa” e “A ordem natural das coisas”, sendo os dois últimos de sua autoria e indicados a vários prêmios de melhor texto. “A ordem natural das coisas” recebeu o Prêmio Cesgranrio em janeiro deste ano. Em 2019, dirigiu “Um dia a menos”, monólogo com a atriz Ana Beatriz Nogueira.
Fabiano de Freitas
É diretor de teatro, ator e dramaturgo. Mestre em Artes pela UERJ, pesquisa performance, política e sexualidade a partir da obra de Copi. Diretor artístico de Teatro de Extremos, cia que completa 13 anos de trabalho continuado em 2019. Em 2015, montou “O homossexual ou a dificuldade de se expressar”, que recebeu 13 indicações aos Prêmios Shell, Cesgranrio, APTR e Questão de Crítica. Em 2017, a cia estreou “Balé ralé, que ganhou o prêmio Questão de Crítica. Também com Teatro de Extremos dirigiu os espetáculos “Feriado de mim mesmo” (2011), “As engrenagens” (2010), “Queda” (2009 e 2014), “Ataraxia” (2006) e a performance “O destino da humanidade”.
Dirigiu o espetáculo-show “Rival rebolado” (2016 a 2018) e “Favela rouge” (2009). Realizou residências artísticas na África do Sul e na Holanda, e com este último país manteve intenso intercâmbio em vários projetos, dentre eles o “BR_NL Drama” que traduziu dramaturgos inéditos nos dois países (2012). Supervisionou a dramaturgia e a direção da peça “Mercedes” (2016).
Roteirista e diretor do Núcleo de Radiodramaturgia EBC (2011 a 2014). Em 2016, começa a colaborar com o Núcleo de Dramaturgia do SESI no Rio, dirigindo 17 leituras dramatizadas e a montagem do texto ‘E de repente uma ossada de baleia emergiu na cidade’. Também colaborou com o projeto SESC Dramaturgias, do Departamento Nacional do SESC (Goiás, Mato Grosso do Sul, Amapá, Roraima, Bahia e Rio Grande do Norte).
Em 2018, dirigiu “O grelo em obras” e “Marilia Gabriela não vai mais morrer sozinha”, com o Coletivo UTC-4, em Manaus. Em 2019, realizou a residência artística Teatro de Locação – Pontes pela Ficção, no Festival de Inverno do SESC-RJ, em Petrópolis. Ministrou a oficina “Como eliminar monstros – abordagens contemporâneas sobre o HIV”, na mostra Todos os Gêneros do Itaú Cultural, em São Paulo. Participou do projeto “Dramaturgias 2”, do SESC Ipiranga, com direção de “O homem de uniforme escolar”.
FICHA TÉCNICA
Texto e Atuação: Leonardo Netto
Direção: Fabiano de Freitas
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Luíza Fardin
Cenário: Elsa Romero
Visagismo: Marcio Mello
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Trilha Sonora: Rodrigo Marçal e Leonardo Netto
Design Gráfico: Lê Mascarenhas
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda
Mídias Sociais: Rafael Teixeira
Direção de Produção: Luísa Barros e Rafael Faustini
Realização: Fulminante Produções Culturais
SERVIÇO
Espetáculo: “3 maneiras de tocar no assunto”
Temporada: 3 de outubro a 22 de dezembro.
Local: Teatro Poeirinha (Rua São João Batista, 104 – Botafogo.
Dias e horários: De quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 19h.
Duração: 80 min.
Valor do ingresso: 50 (inteira) e 25 (meia).
Capacidade: 49 lugares
Classificação etária: 14 anos
Informações: (21) 2537-8053.
Horário da bilheteria: terça a sábado, 15h às 21h. Domingo, 15h às 19h.
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