Do carro de boi ao tanque de guerra, por Alex Ferraz

Do carro de boi ao tanque de guerra, por Alex Ferraz

Cena 1: dia amanhecendo, a brisa agradável e refrescante entrando pela janela e trazendo o quase lamentoso  ruído do carro de bois que subia preguiçosamente a ladeira. 
Ladeira da enorme e linda casa da minha tia,  em Itambe, ali quase vizinha a Vitória  da Conquista. Passava minhas férias de verão lá. E como já deu para notar,  dormíamos com algumas janelas abertas.
Era 1967, por aí.  Perigo? Nenhum. Afinal, se até em Salvador podíamos, naqueles tempos e mesmo mal entrando na adolescência, ir da Barra até os Barris a pé,  uma hora da manhã e zonzo com os primeiros copos de cerveja tomados numa festa de quinze anos, o que dizer da paz e segurança infinitas de uma cidade do interior com 30 mil habitantes?

Corta. Cena 2: a pacata cidadezinha virou hoje um local onde as janelas têm grades, a cocaina e o craque são vendidas num bairro onde, antes, a única coisa que metia medo era assombração e vaca brava. Hoje, há tiros, facadas e a eterna ameaça de uma agência bancária explodida por dinamite mais fácil de comprar do que banana…
Assim está o Brasil hoje. Não há mais cidades pacatas do interior. Pelo contrário, em muitos casos são até mais aterrorizantes do que as metrópoles, porque têm menos polícia. Aliás, quando é que muita polícia traz tranquilidade?
Começou no Rio e tudo indica que, seguindo a trilha do incontrolável (hum!) crime organizado, vai se espalhar pelo Brasil afora: em vez do carro de bois, o tanque de guerra, as baionetas, os blindados. Em vez de borboletas e bem-te-vi, zunem balas perdidas.
Tudo isso para enfrentar o poderoso exército do crime organizado, às vezes até mais bem armado.
Não era para ser assim. Ao longo dos últimos 40 anos não foram poucos os sinais cada vez mais evidentes de que estávamos entrando numa guerra civil.
Logo nós, o tal povo pacífico. Logo nós, o país que se jactava de ser um oásis de tranquilidade por não ter vulcão, terremoto ou furacão.
Mas temos uma catástrofe bem pior: a falta de seriedade de governos e/ou políticos e,  reconheçamos, uma corrupção que grassa por todas as camadas da sociedade. 
Por que nos chocamos com as notícias sobre a Síria?

Artigo do jornalista Alex Ferraz

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