Derramamento de petróleo: quais os danos e como recuperar áreas atingidas?
Biorremediação, remediação química e barreiras físicas são opções para diminuir danos ambientais
Em outubro de 2024, um grave acidente ambiental ocorreu na cidade de São Mateus, no norte do Espírito Santo. Uma área de 58 mil m², que equivale a cinco campos de futebol, foi gravemente afetada por um derramamento de petróleo, contaminando a vegetação e um rio da região. O grave incidente, no entanto, é apenas um de uma série de derramamentos de petróleo registrados no Brasil anualmente. Durante o ano de 2023, segundo dados fornecidos pela Petrobras, foram contabilizados sete vazamentos de petróleo e derivados, totalizando 16,9 m³ de contaminação.
Esses derramamentos causam graves danos ambientais e econômicos para as áreas afetadas, visto que o petróleo é um líquido espesso e viscoso, formado pela fossilização de matéria orgânica soterrada por milhões de camadas de terra, como plantas e animais, que adquirem essa característica de líquido preto devido à pressão e ao longo tempo de processamento. “Esse óleo é extremamente agressivo e destrói praticamente tudo aquilo em que encosta, sendo um dos piores impactos ambientais que podem existir”, aponta , coordenador do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Positivo (UP), Leonardo Wedderhoff Herrmann.
Principais causas dos derramamentos
Os vazamentos de petróleo podem ocorrer de diversas formas, desde falhas nas tubulações das plataformas petrolíferas até danos causados nas estruturas de transporte do produto, feito normalmente por barcos e caminhões. “Esses derramamentos são mais comuns nos oceanos, por causa de falhas nas plataformas de extração do produto, mas também podem acontecer em terra, durante o transporte do óleo”, destaca o especialista. Ele explica que é fundamental ter uma atenção especial em relação ao transporte e armazenamento do petróleo para impedir que os acidentes aconteçam.
Danos ambientais e econômicos
O impacto ambiental causado pelo derramamento de petróleo é bastante grave. Esse líquido oleoso é tóxico e destrói a fauna e a flora marinhas e terrestres. “Ao entrar em contato com o solo, o petróleo elimina a microbiota local e dificulta a absorção de nutrientes pelas plantas, tornando o terreno infértil. Se ele cobrir as folhas das plantas, pode impedir a fotossíntese e as transferências gasosas, acabando com a flora daquela região. Nas águas, ele forma uma camada na superfície que bloqueia a passagem de luz, afetando diretamente a vida marinha”, revela Herrmann. O especialista ainda aponta que a recuperação dos ecossistemas atingidos pode ser bastante demorada e, em muitos casos, os danos são irreversíveis.
Economicamente, o derramamento de petróleo faz com que as áreas contaminadas deixem de gerar recursos, como a colheita dos frutos e a atividade da pesca, inviabilizando a comercialização desses produtos. Há, ainda, os custos com limpeza e recuperação das regiões afetadas, que são bastante elevados.
Estratégias de contenção e remediação
De acordo com o especialista, existem três abordagens principais para lidar com o derramamento de petróleo. A contenção física envolve o uso de barreiras físicas, como boias, para impedir que o óleo se espalhe. Além disso, técnicas de bombeamento ou sucção podem ser usadas para recuperar a substância, mesmo que esteja misturada com água ou outros componentes. Outra estratégia é a de remediação química. Entretanto, essa não é a mais recomendada, visto que, para combater o petróleo, o reagente químico utilizado deve ser ainda mais agressivo, o que pode causar novos danos ao ambiente atingido.
A última alternativa, que é a mais indicada, é o uso da biorremediação. Na técnica, utiliza-se um conjunto de micro-organismos ou de organismos vivos para degradar o petróleo e, gradualmente, recolonizar a parte biológica que foi afetada por ele. “Essa ação exige um complexo de bactérias, fungos, leveduras e arqueobactérias, que vão abrindo espaço para os peixes, micro-algas, plantas e animais retornarem”, detalha Herrmann. Entretanto, o professor universitário explica que, mesmo sendo a estratégia mais favorável ao meio ambiente, trata-se de um processo muito lento.
Como evitar os derramamentos de petróleo?
Na opinião do especialista, a melhor forma de evitar esses derramamentos de petróleo são as medidas preventivas. “A principal recomendação é focar na qualidade dos equipamentos que lidam com o petróleo, investindo em tubulações reforçadas nas plataformas e em barcos de transporte com cascos mais robustos. O transporte terrestre do produto, feito por caminhões, também deve ser bem organizado e devidamente regulamentado”, sugere Herrmann, destacando que as medidas preventivas são muito mais eficazes que uma remediação, já que, a partir do derramamento, torna-se muito mais difícil resolver o problema. “As soluções para reparar um derramamento de petróleo são complexas e têm um alto custo, e a recuperação do ambiente impactado pode levar até décadas”, finaliza.
Deixe um comentário