Embora a admiração entre ambos fosse recíproca desde os anos 1960, somente em dezembro de 2007 o cineasta mineiro, radicado em São Paulo, João Batista de Andrade, teve a oportunidade de conhecer o diretor de ‘Aruanda’, Linduarte Noronha, considerado o mais paraibano dos pernambucanos. Na ocasião, um dia após homenagem do então recém-criado Fest Aruanda ao diretor de ‘Liberdade de Imprensa’ (1967) e ‘O Homem que virou suco’ (1980), o encontro foi documentado por três câmeras mini-DV, desde o momento em que o anfitrião recebe o convidado no portão de sua residência, no bairro dos Ipês.
O material foi guardado a sete chaves durante todo esse tempo por Lúcio Vilar, diretor do festival e responsável por organizar a ‘empreitada’ para registrar aquele ‘momento histórico’. Passados quinze anos, a visita de João Batista à Noronha, em João Pessoa, foi transformada em filme que terá sua primeira exibição pública na noite desta sexta-feira, 24, em Ouro Preto-MG, dentro da programação da 17ª CineOP.
“É uma honra que a estreia de ‘Confissões Documentais’ seja na Mostra de Cinema de Ouro Preto, pela singularidade desse festival voltado à memória e a preservação audiovisual. O evento põe em evidência questões intimamente relacionadas com o conteúdo desse documentário, daí que não poderia ter janela mais adequada para a estreia”, disse o diretor Vilar sobre a seleção do curta-metragem viabilizado através de recursos da Lei Aldir Blanc-PB, edital Margarida Cardoso da Secretaria de Cultura da Paraíba.
Perguntado sobre o título (‘Confissões Documentais’), ele justificou a escolha pelo tom ‘confessional’ do diálogo entre os cineastas. “Aqui e ali, tem uma fala reveladora, uma declaração que não haviam feito antes, e, afinal, são dois documentaristas, o que acabou caindo como uma luva tal caracterização”, explicou. O próprio João Batista, que assistiu em primeira mão ao filme logo que foi montado, concordou.
“Gostei do título, sim. É raro uma conversa assim sobre caminhos diversos na realização de documentários. As pessoas assistem aos filmes, não sabem como cada cena foi captada. São as assinaturas pessoais dos documentaristas”, reiterou.
Sobre a importância de filmes com esse perfil, de valorização das trajetórias profissionais de dois nomes do documentarismo brasileiro e latino-americano, João Batista declarou:
“Estávamos vivos, os dois. E com uma vivência enorme como documentaristas. Feliz a ideia de também documentar”, destacou. Perguntado sobre o simbolismo da única vez em que dialogou, pessoalmente, com Noronha, ele resumiu com a palavra ‘emoção’. E completou:
“Tantos anos depois, de conhecer a pessoa que havia realizado aquele filme. E justamente quando nós, do ‘Grupo Kuatro’ de cinema da USP (Ramalho, José Américo e eu) filmávamos nosso primeiro documentário, sobre a população miserável de catadores do maior lixo de São Paulo. Filme, aliás, que nunca terminamos. Ver ‘Aruanda’ era um alento ao cinema documentário. E certamente nos inspirava. Ver o realizador, Linduarte Noronha, mais de quatro décadas depois, foi como conhecer uma das principais influências em minha carreira como documentarista. Uma lição de cinema livre, cru, sem maquiagem, mostrando que o belo está na persistência humana diante do desafio de viver, e viver como ser social”.
A Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) foi instituída em 2006 e se pauta desde então por trabalhar com eixos temáticos como preservação audiovisual, história, educação e no tratamento dado ao cinema enquanto patrimônio. A seleção 2022 contempla 151 filmes em pré-estreias e mostras temáticas, de oito países (Brasil, Argentina, Bolívia, EUA, Israel, Peru, Rússia e Uruguai) e 21 estados brasileiros, distribuídos em oito mostras, com sessões presenciais e on line pela plataforma cineop.com.br
O filme paraibano está contemplado na área de preservação, na sessão Operações de Memória. De acordo com a curadoria desta área, assinada pelas especialistas Fernanda Coelho e Daniela Giovana Siqueira, o curta-metragem ‘Confissões Documentais’ “documenta o encontro de dois cineastas, João Batista de Andrade e Linduarte Noronha, em João Pessoa, no ano de 2007. A conversa se dá pela admiração de João Batista de Andrade pelo filme ‘Aruanda’ e, num bate-papo fluido e simpático, falam sobre a realização do filme e de sua influência no cinema documental de João Batista”.
CONFISSÕES DOCUMENTAIS
(Projeto selecionado e realizado com recursos da Lei Aldir Blanc/Edital Margarida Cardoso/2021/JOÃO PESSOA-PB)
SINOPSE:
O tom é ‘confessional’ do diálogo entre os cineastas Linduarte Noronha (‘Aruanda’/1960) e João Batista de Andrade (‘Liberdade de Imprensa’/1967), que se encontraram pela primeira – e única vez – em dezembro de 2007, em João Pessoa-PB.
Personagens: Linduarte Noronha e João Batista de Andrade
Direção: Pesquisa e Roteiro: Lúcio Vilar
Produção: Andréa Vilar (Bolandeir@rtes&Films)
Edição: Rogério Monteiro
Pesquisa de acervos jornalísticos: Ana Flor
Fotografia: Adilson Luiz
Assistente: Alfredo Amaral
Animação: Gilvan Fernandes
Arranjos Adicionais/Mixagens da Canção ‘Caicó’: Jean Nand e Helton Vilar
Imagens de Drone: Ivan Drone/Fernando Dias/Felipe Dias
Transcrição de Legendas/Tradução para Inglês: Juan Vilar
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