Condenado pelo assassinato da filha Isabela, Alexandre Nardoni já tem emprego garantido fora da prisão
Condenado pelo assassinato da filha Isabela, em 2008, Alexandre Nardoni deixou a Penitenciária II, em Tremembé (SP), na última segunda-feira, 6, após cumprir 16 anos de prisão com os próximos passos de sua vida já definidos: vai trabalhar na construtora do pai no bairro de Santana, na cidade de São Paulo.
Isabela foi jogada do apartamento onde seu pai morava
Lá, ele deve morar com Anna Carolina Jatobá – também condenada pela morte de Isabella – e os filhos.
A Justiça acatou o pedido da defesa e determinou a progressão de Alexandre ao regime aberto. Um parecer social emitido por uma assistente social, enquanto a defesa ainda reivindicava a progressão, diz que Nardoni mantém a ideia de trabalhar na construtora com o pai.
“Mantida proposta de trabalhar junto a seu genitor em sua construtora”, diz trecho do parecer.
“Com a recente perda materna, em liberdade, passará a morar com seu pai, esposa, irmão e filhos, protelando sua saída em virtude do luto”, continua.
Além disso, cita outros pontos da história de Alexandre: é o mais velho de três irmãos, estudou em colégios particulares, é formado em Direito e, aos 16 anos, abriu uma loja de confecções de roupas para surfe. Aos 22, passou a atuar na área de consultoria jurídica, função que exerceu até ser preso em 2008.
O casal sempre negou o crime
Condenado
Nardoni foi condenado a uma pena de 30 anos, dois meses e 20 dias de reclusão pela morte de sua filha, Isabela Nardoni, de apenas cinco anos, ocorrida em 2008. Ele foi condenado por homicídio qualificado por meio cruel, mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Sua esposa e madrasta da vítima, Anna Carolina Jatobá, também participou do crime e foi condenada a 26 anos e oito meses.
Justiça concedeu regime aberto a Alexandre Nardoni
O juiz José Loureiro Sobrinho justificou a decisão mencionando o tempo decorrido desde o crime, além do bom comportamento carcerário de Nardoni, comprovado por avaliações psiquiátricas e do próprio presídio.
O magistrado destacou que o condenado já cumpriu mais da metade da pena, sempre apresentando boa conduta e atendendo aos requisitos legais para a obtenção do benefício.
Com o regime aberto, Nardoni terá obrigações como comparecer a cada três meses à Vara de Execuções Criminais e permanecer em casa das 20h às 6h, além de outras restrições previstas.
MP pede que Alexandre Nardoni volte à prisão
O Ministério Público de São Paulo entrou, nesta terça-feira, 7, com um recurso na Justiça para tentar impedir que Alexandre Nardoni receba o benefício do regime aberto .
O MP argumenta que Nardoni deve voltar ao regime semiaberto por considerar que ele precisa passar por mais exames psiquiátricos antes de poder progredir para o regime aberto. A Promotoria argumentou, ainda, que ele deveria ser submetido ao teste de Rorschach e a um exame psiquiátrico profundo para averiguar um possível transtorno de personalidade e se ele representa um perigo para a sociedade.
Mãe de Isabela fez desabafo
“Fico com a impressão de que o crime compensa em nosso país, pois as leis são muito brandas, há muitas brechas para redução de pena e liberdade antecipada. Não entra na minha cabeça um criminoso que matou a própria filha ser condenado a 30 anos e sair da cadeia tendo cumprido pouco mais da metade”. “Enquanto isso, eu fico presa num sentimento de saudade da minha filha”, lamentou Ana Carolina Oliveira.
Relembre o caso – O que a polícia apurou
Na noite de 28 de março de 2008, o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá voltava para casa com seus dois filhos e Isabella, filha dele com sua primeira mulher. As crianças estavam cansadas e irrequietas. Nervosa, Anna Carolina bateu em Isabella, causando um ferimento na cabeça da menina.
O casal levou Isabella para o apartamento. Alexandre entrou em casa com a filha nos braços. Ela sangrava pela testa. Anna Carolina tentou esganar a enteada, e a violência foi tamanha que o casal achou que a garota estava morta. Em pânico, Alexandre abriu um buraco na rede de proteção da janelas e atirou sua filha por ele. Mas Isabella ainda estava viva quando chegou ao chão.
Essa é a versão “oficial” para um dos crimes mais chocantes da história recente e se consolidou como a verdade absoluta na cabeça de muitos. Acontece que não há provas definitivas de que foi isso mesmo o que se passou.
A perícia do caso foi, no mínimo, enviesada. A investigação ignorou evidências que não se encaixavam em sua narrativa. E a própria Justiça transformou o julgamento num espetáculo para as massas. Quando o casal foi condenado, houve até queima de fogos.
Anna Carolina Jatobá condenada pelo assassinato de Isabela já está solta
Anna Carolina Jatobá vive há dois meses, em um apartamento luxuoso, em Santana, na zona norte de São Paulo (SP), desde que deixou o presídio em Tremembé, no interior de SP, para cumprir a pena no regime aberto.
A decisão da justiça foi considerar que Anna Jatobá tem “amparo familiar, com possibilidade de, em meio aberto, receber o tratamento psicoterápico necessário para auxiliá-la em seu processo de reintegração social”.
Em outubro do ano passado, um relatório, assinado por um assistente social, apontou que Anna afirmou ter planos para o futuro, como, por exemplo, abrir um ateliê para fabricar pijamas e roupas para pets. O relatório serviu como um dos documentos para embasar o pedido de regime aberto. Um mês depois, em 23 de novembro, um exame psiquiátrico também mostrou as intenções de Anna Carolina em se reintegrar na sociedade, citando, inclusive, o relacionamento com Alexandre Nardoni.
Segundo o documento, Jatobá negou o crime e afirmou que mantinha uma relação de afeto com Isabela Nardoni. “Quando ela ficava comigo, eu cuidava como se fosse a minha filha”.
Jatobá revelou que tem tatuagens no corpo em homenagem a Isabella, Alexandre e seus dois filhos. A tatuagem foi feita na primeira vez que obteve o benefício da saída temporária e que são uma forma de referência afetiva.
Ainda no exame, ela disse que seguia com o relacionamento com Alexandre e que o encontrava durante as saídas temporárias, na casa dos pais de Nardoni e que também trocavam correspondências.
Em relação ao futuro, Jatobá afirmou que pretende fazer faculdade de Designer de Moda, utilizando a experiência que adquiriu no presídio. Antes, porém, quer ajudar na construtora do sogro, negócio da família.
O Ministério Público de São Paulo entrou com recurso contra o regime aberto para Jatobá, mas ainda não foi julgado. A defesa de Anna Carolina Jatobá não quis comentar.