Artistas da Bahia são destaques brasileiros em exposição sobre arte afro-diaspórica no MAB-FAAP, em São Paulo

Artistas da Bahia são destaques brasileiros em exposição sobre arte afro-diaspórica no MAB-FAAP, em São Paulo

Trabalhos de 10 diferentes artistas do Estado integram a mostra “Ancestral: afro-américas – Estados Unidos e Brasil”, ao lado de trabalhos de outros 84 artistas

 

São Paulo, janeiro de 2025 – Importantes nomes da arte baiana representam o Estado na exposição “Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil”, em exibição no Museu da Arte Brasileira da FAAP (MAB-FAAP), em São Paulo, até dia 26 de janeiro, com entrada gratuita.

 

Sob a curadoria dupla da brasileira Ana Beatriz Almeida e da americana Lauren Haynes e direção artística de Marcelo Dantas, a mostra destaca a arte afro-diaspórica nos EUA e Brasil, e apresenta os trabalhos de Mestre Didi, Lita Cerqueira, Agnaldo Manuel dos Santos, José Adário dos Santos, Emanoel Araujo, Jayme Figura, Nádia Taquary, Rubem Valentim, Mayara Ferrão e Eneida Sanches ao lado de outros 64 artistas nacionais e internacionais.

 

 

Após encerrar sua estreia em São Paulo, “Ancestral” seguirá em itinerância pelo Brasil, passando pelas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, e pelo Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), em Salvador.

Um dos principais artistas brasileiros, reconhecido como mestre de capoeira, escritor, escultor, líder e sacerdote do candomblé baiano, Mestre Didi (1917-2013) foi iniciado nas tradições Iorubás quando criança. Suas obras refletem a entrega espiritual e profunda conexão com a religiosidade e com a expressão da fé, incorporando elementos do candomblé e da umbanda em suas esculturas e pinturas, que buscavam a verdadeira essência da identidade afro-brasileira. Fundamental na perpetuação da cultura iorubá, Mestre Didi publicou dicionários iorubá-português e auxiliou na criação do departamento de estudo da língua na Universidade Federal da Bahia.

Considerada a primeira fotógrafa negra da Bahia, Lita Cerqueira (Salvador, 1952) é uma importante referência na documentação visual afro-brasileira, registrando temas da cultura baiana: o sagrado das procissões, retratos da população, cenas de jogos de capoeira, festas de largo e outras situações cotidianas que encontra em seu caminho. Seus trabalhos, sempre em preto e branco, abordam questões referentes às limitações técnicas iniciais da fotografia do século XX, e já estiveram presentes na Pinacoteca de São Paulo, no Museu AfroBrasil, foram publicados em revistas, livros e já se tornaram capas de CDs, sempre presentes no circuito da arte nacional.

Grande escultor brasileiros, Agnaldo Manoel dos Santos (1926-1962) mistura elementos da religiosidade, da maternidade e da cultura baiana, representando orixás, santos católicos e carrancas com uma técnica própria ao impregnar a madeira que utiliza com substâncias escuras. De caráter antropomórfico, suas obras misturam diversas referências de objetos, povos, e culturas diferentes que conheceu ao longo da vida, criando uma expressão verdadeiramente brasileira. Seus primeiros destaques no cenário cultural nacional aconteceram em 1957 ao participar da 7° Bienal de Arte de São Paulo. A partir de então, não saiu mais do circuito artístico, circulando pelos principais espaços culturais até os dias de hoje.

Neto da Ialorixá Bárbara do Sacramento, José Adário dos Santos (Salvador, 1947) cresceu em meio às tradições e ritos candomblecistas e iniciou seus trabalhos como ferreiro de santo aos 11 anos, fabricando instrumentos, portões e objetos utilizados nos ritos do Candomblé. Com o tempo, passou a criar esculturas que operam em mediação entre os homens e os orixás, sendo celebrado nos terreiros da Bahia e na cena cultural do Estado e do país, reconhecido por honrar suas raízes afro-diaspóricas. Também conhecido como “Zé Diabo”, por suas inúmeras esculturas representando Exu, o artista-ferreiro é conhecido por suas linhas simétricas, retas ou sinuosas, e pelo complexo universo simbólico que representam as divindades afro-brasileiras. Suas peças já foram expostas em diversas instituições culturais nacionais e internacionais, sendo oito delas parte permanente do acervo do Museu Afro Brasil.

Com o objetivo de valorizar a cultura negra, o artista plástico, gravurista, cenógrafo, curador, museólogo e gestor público Emanuel Araújo (1940-2022) foi idealizador do Museu Afro Brasil e diretor do Museu de Arte da Bahia e da Pinacoteca de São Paulo. Suas obras compostas por formas abstratas e estruturas tridimensionais, apresentam conceitos referentes ao universo da arte e cultura afro-brasileira, enfatizando suas raízes com cores vibrantes, contrastes e enaltecendo questões do negro, do indígena e da figura feminina na sociedade. Nos mais de 40 anos que atuou no cenário artístico brasileiro, explorou o preconceito e a discriminação social em debates, aulas universitárias no Brasil e em outros países, promoveu palestras e atou diretamente na gestão e curadoria de instituições em todo o território nacional.

Muito conhecido pelos moradores de Salvador, o artista plástico performático Jaime Figura (1959–2023) passou grande parte da vida adulta andando pelas ruas da capital baiana vestido com uma “armadura” de couro, ferro e alumínio, e uma máscara dos mesmos materiais, tornando-se famoso ao esconder a própria identidade para proteção e privacidade: desejava ser reconhecido por seus trabalhos, não por sua aparência. Sua jornada artística iniciou na adolescência ao trabalhar como chapeiro em gráficas e explorando materiais reciclados, evoluindo para performances e intervenções urbanas abordando temas como identidade, cultura popular e questões sociais relacionadas com os movimentos punk, com os quais se identificava. Suas obras desafiavam os limites tradicionais da arte e transitavam por diversas áreas criativas, passando por exposições tradicionais, teatros, música e cinema.

Nádia Taquary (Salvador, 1967) destaca elementos da cultura e religião afro-baiana e da luta dos negros no Brasil por meio de suas esculturas e instalações, reflexos de sua origem e imaginação. Inspirada pela joalheria afro-brasileira, Nádia iniciou no universo artístico trabalhando com metais e amuletos, ressignificando objetos vendidos como souvenirs na Bahia e de teor turístico, narrando histórias dos povos tradicionais africanos e de lideranças femininas esquecidas. Suas peças integram coleções permanentes no Museu de Arte Moderna da Bahia, na Pinacoteca de São Paulo e Museu de Arte do Rio, além de expor em instituições do mundo todo.

Considerado mestre do concretismo brasileiro, Rubem Valentim (1922-1991) foi um importante pintor do Movimento de Renovação das Artes Plásticas na Bahia, em meados dos anos 1940. Remetendo signos de iconografias de religiões afro-brasileiras, suas obras com formas geométricas e cores fortes se tornaram uma referência da arte concreta brasileira, evoluindo para murais, relevos e esculturas em maneira de caráter monumental. Ao longo da vida, o artista foi responsável pela criação de obras públicas em Brasília e São Paulo, e homenageado pelo Museu de Arte Moderna da Bahia com a inauguração da Sala Especial Rubem Valentim no Parque das Esculturas.

A artista Mayara Ferrão (Salvador, 1993) é um dos nomes de destaque na cena artística em ascensão da Bahia. Utilizando várias linguagens, experimentações e diferentes tecnologias, abrange a ancestralidade, simbologias da cultura afro-brasileira e sua própria vivência em trabalhos audiovisuais, ilustrações, fotografias e artes plásticas. Com seu projeto “Álbuns de Desesquecimentos” (2024), presente em “Ancestral”, alcançou reconhecimento internacional ao utilizar inteligência artificial para criar fotografias fictícias do período colonial representando casais de mulheres negras e indígenas em momentos de amor e intimidade, propondo reflexões sobre a história e o afeto LGBT+ afro-brasileiro e originário.

Em uma mistura de gravura e instalação artística, Eneida Sanches (Salvador, 1962) cria peças abstratistas que remetem aos rituais candomblecistas e da estética africana com uma técnica exclusiva e pessoal de impressão de gravura em matriz de metal. Seus trabalhos exploram a conexão entre observador e observado, com figuras que representam os olhos de bois usados no candomblé, voltando-se para o transe – o deslocamento espiritual entre as dimensões que ocorre durante os ritos. Brincando com luzes, texturas, projeções e mapping, a artista produz instalações hipnóticas sozinha e em conjunto com o artista novaiorquino Tracy Collins, com quem colabora desde 2008 em diversos projetos, incluindo a obra em “Ancestral”. A artista foi indicada ao Prêmio Pipa 2015, e participou da 3° Bienal de Arte da Bahia, exposições no Itaú Cultural em São Paulo e na Bienal Mercosul de 2020.

Com apoio da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP e da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, “Ancestral” tem patrocínio do BB Asset, Bradesco, Caterpillar, Instituto CCR, Citi, Itaú Unibanco, Whirlpool e Bank of America – que cedeu 52 obras de seu acervo para a mostra. Além dele, o Museu Afro Brasil também cedeu obras de sua coleção para a ocasião.

Serviço:

Exposição “Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil”
Direção Artística: Marcello Dantas
Curadoria: Ana Beatriz Almeida e Lauren Haynes
Patrocínio: BB Asset, Bradesco, Caterpillar, Instituto CCR, Citi, Itaú Unibanco, Whirlpool e Bank of America
Período: até 26 de janeiro de 2025
Local: MAB – FAAP – Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo
Funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h. Fechado às segundas-feiras.
Entrada gratuita.
Mais informações: (11) 3662.7198

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