Artigo: Dia da Consciência Negra para todos, por Luana Génot
Todo domingo compartilho com meus seguidores um vídeo com um convite: “bora refletir?” e há algumas semanas atrás perguntei como as pessoas costumam comemorar as pequenas conquistas do dia a dia. É bem comum esperarmos grandes feitos ou conquistas enormes para comemorar! Mas, por diversas vezes, esquecemos ou negligenciamos o que conquistamos diariamente e o que nos leva a realizações maiores.
Recebi algumas respostas de pessoas que já conseguem fazer isso com mais naturalidade no dia a dia, porque entenderam o valor dessas conquistas. Mas, também recebi diversos relatos sobre a dificuldade de olhar para essas conquistas com mais carinho e celebrá-las. Vale ressaltar que não vejo certo ou errado nesses relatos, existem cenários e cenários, histórias diferentes e como cada um percebe o que é uma conquista. Alguns de nós esperam mais que outros.
Durante minha passagem por Nova York, em um encontro dos Jovens Líderes Globais, do Fórum Econômico Mundial, recebi a notícia que o Dia da Consciência Negra passaria a ser feriado nacional. O Projeto de Lei, aprovado pela Câmara dos Deputados com 286 votos a favor, ainda segue para ser sancionada pelo Presidente da República. Antes disso, a data só era marcada como feriado em seis estados.
Quando recebi a notícia, pensei: estava mais do que na hora! Um passo adiante frente a tantos que ainda precisamos dar. Afinal, esta já era uma reclamação antiga de várias pessoas, iniciativas e movimentos. O Dia da Consciência Negra é feito justamente para convidar as pessoas a refletir sobre os avanços que ainda precisamos enquanto sociedade em prol do alcance da igualdade. É um convite para olhar para o passado, mas também para o presente e futuro de uma população majoritariamente negra e indígena (56% do país).
Um estudo feito pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), do qual sou Fundadora e Diretora Executiva, afirmou que, no ritmo em que estamos – de distribuição de acessos e oportunidades – vamos demorar 167 anos para alcançar a igualdade racial. São, pelo menos, 3 gerações sem enxergar mudanças concretas, com mais pessoas negras ocupando espaços de liderança, seja no setor público ou privado, pessoas negras ganhando maiores salários e com poder da caneta para fazer mudanças.
Apesar dos avanços que ainda precisamos, também é importante comemorar as pequenas vitórias que fazem parte dessa trajetória. Ter um congresso que entende a necessidade de falar sobre pauta racial: é uma conquista! Ter um congresso com 286 pessoas que apoiaram termos um dia marco nacionalmente sobre a pauta racial é uma conquista! Ter um projeto de lei aprovado, que impacta um país inteiro: é uma conquista!
Lutamos por anos e anos para que houvesse mais representatividade e consciência negra e indígena dentro da política, justamente para que pudessem levar as pautas que eram negligenciadas no passado e outras tantas que ainda são no presente. Celebrar cada passo nos oxigena e nos dá força pra continuar lutando por um mundo melhor, por isso precisamos comemorar essa conquista! É mais do que o feriado nacional, é tempo de parar e lidar com esta pauta da forma como ela precisa ser enxergada. E sobre entender que a pauta racial está ganhando espaço, agenda nas discussões entre as pessoas que tem poder de mudar o país e na sociedade de modo geral. Celebrando e avançando, assim seguimos na luta.
Sobre o ID_BR | @id_br | [website]
Fundada em 2016, o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) é uma organização sem fins lucrativos, pioneira no Brasil e 100% comprometida com a aceleração da promoção da igualdade racial. A partir da Campanha Sim à Igualdade Racial desenvolvemos ações em diferentes formatos para conscientizar e engajar organizações e a sociedade. Buscamos reduzir a desigualdade racial no mercado de trabalho, como indica o objeto 10 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).