A saga de Shabart Gula, mulher afegã, famosa mundialmente, afinal pode ter um final feliz

A saga de Shabart Gula, mulher afegã, famosa mundialmente, afinal pode ter um final feliz

Quem não lembra da foto icônica da linda é triste menina de afegã de olhos verdes e profundos que ficou famosa ao ser capa da revista @nationalgeoghrafic? A imagem de Sharbat Gula, que foi fotografada em um campo de refugiados aos 12 anos em 1984 correu o mundo, se tornou icônica,  mas sua realidade pouco mudou, até que ela conseguiu imigrar para a Itália. 

Tudo aconteceu durante a invasão soviética no Afeganistão, quando Shabart estava tendo aula dentro de uma escola religiosa islâmica para meninas, dentro do campo de refugiados Nasir Bagh, no Paquistão.

A garota, junto de suas colegas, foi abordada por um homem chamado Steve McCurry, um fotojornalista estadunidense que trabalhava para a National Geographic. Ele aproveitou aquela rara oportunidade e fotografou as meninas enquanto elas estavam sem suas burcas (a lei afegã exigia o uso constante dessas vestes muçulmanas).

O resultado do trabalho das lentes habilidosas de McCurry foi surpreendente: a foto tirada de Sharbat Gula rodou o mundo e até hoje é uma das mais icônicas para explicar o conflito afegão e a situação dos refugiados. Na imagem, os penetrantes olhos verdes da menina se destacam. Ela aparece envolta em um xale marrom esfarrapado, encarando profundamente quem a observa. A reprodução aconteceu um ano depois. 

Imigração legal para a Itália

Na última, quainta-feira, 25, Sharbat chegou finalmente à Roma, ao ter aceito seu pedido de emigrar para a Itália, após a tomada de poder pelos Talibãs sua vida correu perigo.

Aos 47 anos, Sharbat Gala, já apresenta sinais do tempo, mas a tristeza e a expressão de medo atravessaram a idade. Ela se tornou o símbolo mundial da instabilidade social e do sofrimento por que passam os moradores do Oriente.

Gala se sentia insegura no seu país, tinha sido presa e vivia escondida. O primeiro ministro italiano, Mario Draghi, organizou a operação após ela fazer um apelo para poder deixar o Afeganistão. A partir de agora, o governo italiano irá ajudá-la a reconstruir a vida na Itália, disse em comunicado oficial.

Reecontro com o fotógrafo Steve McCurry 

Dezessete anos após a publicação da fotografia, McCurry foi junto de sua equipe da National Geographic Television & Film para procurar a menina afegã. O relato do reencontro entre ele e a garota foi publicado na matéria de capa da revista de abril de 2002, intitulada A Life Revealed. Era o ano de 2002 e  McCurry voltou a fotografar Gula e descobriu que a mulher, que tinha então 30 anos, desconhecia sua fama internacional.

História da vida de Shabat Gula

Sharbat Gula não era orfã – ao contrário de informações falsas que haviam circulado, os pais dela não tinham morrido em um bombardeio. Ela disse que, quando tinha 8 anos de idade, a mãe morreu de apendicite. O pai, por sua vez, estava vivo quando se mudaram para o Paquistão.

Na época, a família vivia em uma tenda no campo de refugiados de Kacha Garahi. Antes de se obrigada a se mudar para lá, a afegã vivia em Kot, na província de Nangarhar, no leste do Afeganistão, quando as tropas soviéticas invadiram o local. “Havia uma guerra. Por isso fomos embora. Muita coisa foi destruída”, afirmou a jovem, segundo a BBC.

Raiva na hora da foto

Gula revelou como se sentia quando a fotografia famosa foi tirada. E honestamente afirmou: estava brava. McCurry era um completo estranho, e não era bem-vindo para uma garota da cultura tradicional Pashtu. 

Quando o fotógrafo entrou na sala de aula em que a fegã estava, ele tinha solicitado à professora para instruír a menina a cooperar. Depois de ser obrigada a “deixá-lo fotografá-la… ela abaixou as mãos” – segundo McCurry – para descobrir o rosto.

A mulher, ao ver a foto tantos anos depois daquele episódio, sentiu vergonha dos buracos em seu xale vermelho. Ela disse que o havia queimado no fogão.

Casamento e perdas

Aos 13 anos de idade, Gula se casou com Rahmat Gul, que morreu em 2012 de hepatite C, a mesma doença que matou a filha mais velha do casal dois anos depois. 

Prisão por portar documentos falsos

A prisão de Sharbat Gula aconteceu em 19 de outubro de 2016, mas só se tornou pública meses depois pela imprensa internacional. A refugiada afegã, de 46 anos, não tem nacionalidade paquistanesa e enfrentou acusações com pena de até sete anos de prisão, acusada de obter documentos de identidade paquistaneses para ela e dois supostos filhos após subornar três funcionários. “Ela pode ser expulsa do país”, de acordo com fontes da Agência de Investigação Federal (AIF). A polícia procura também os dois supostos filhos de Gula para prendê-los.

Gula era  mais uma entre os milhões de refugiados afegãos que conseguiram driblar o sistema informatizado do Paquistão. No país, a documentação supostamente fraudada pela mulher e outros inúmeros asilados permitia a compra de casas, abertura de contas bancárias e uma vida paquistanesa permanente. 

Ela usava a carteira de identidade falsa, inclusive, para que os filhos pudessem ir à escola e para que pudesse vender sua casa. A afegã queria vender o imóvel e voltar ao Afeganistão, com medo de ser presa, mas não deu tempo, pois sua casa foi invadida e ela foi detida. 

A afegã ficou 15 dias na prisão e depois foi deportada para o Afeganistão. Longe ela estaria da vida tranquila que vivia antes. Em entrevista, Gula afirmou que estar na capa de uma revista reconhecida mundialmente a colocava na ocasião em risco de ser identificada por “afegãos conservadores que não acreditam que as mulheres devam aparecer na mídia”.

Retorno ao Afeganistão

Quando a refugiada chegou ao Afeganistão, foi recebida pelo presidente afegão, Ashraf Ghani, no palácio presidencial. O líder político prometeu apoio financeiro e disse que compraria uma casa para ela em Cabul. Mas, ela não quis voltar a região onde vivia, pois Kot estava dominada por militantes ligados ao Estado Islâmico. Um dos irmãos da mulher fugiu, com medo da violência dos extremistas. 

Steve McCurry, o fotógrafo que retratou a menina afegã  se comprometeu a ajudá-la ao ficar sabendo de sua prisão no Paquistão. “Eu me comprometo a fazer todo o possível para enviá-la apoio legal e econômico para ela e sua família”, escreveu em sua conta no Instagram ao lado da icônica foto de Shabart Gula. “Condeno duramente essa ação”, acrescentou. “Ela sofreu por toda sua vida e sua prisão é uma enorme violação de seus direitos humanos”.

Planos de Shabart Gula 

Os planos de Sharbat Gula, uma vez que voltou ao seu país de origem, segundo ela, eram melhorar de saúde (a mulher lutava contra hepatite C); dar uma vida feliz para seus filhos e abrir uma entidade de caridade ou um hospital para os mais pobres. “Quero que a paz volte e que as pessoas não fiquem desabrigadas. Espero que Deus conserte este país”, desejou. 

Chegada à Itália

Ao anunciar a chegada de Gulla, o escritório do primeiro ministro afirmou que o retrato de Gulla “simboliza as vicissitudes e os conflitos desse capítulo da história que o Afeganistão e seu povo atravessavam naquele momento”.

A viagem foi toda organizada pelo governo italiano segundo nota oficial “como parte de um amplo programa para cidadãos afegãos para quem o governo planeja a recepção e integração.

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