Nos últimos dias presenciamos fatos no Brasil e no mundo inteiro que mais uma vez nos chamam a atenção para o contraste entre a louvada evolução tecnológica do reverenciado “século XXI” e o notório retrocesso social e politico.

Enquanto celulares viram máquinas com as quais conversamos, fazemos compras e exames médicos a distância; enquanto pessoas são treinadas para uma viagem a Marte e apregoa-se uma suposta liberdade individual que nos estaria dando a chance de não temer expor nossa raça, nossas preferências sexuais nem nossas opiniões, o mundo mais concreto segue grotesco, diria até medieval em certas  paragens.

No Brasil, o dantesco espetáculo vivido nas redes sociais como repercussão do assassinato da vereadora Mirelle mostrou que nem intelectuais, magistrados e muito menos políticos e a sociedade em geral escapam do redemoinho feroz do ódio a tudo que é diferente, ou supostamente diferente.

Ainda nestas plagas tropicais do lado de baixo do Equador presenciamos autoridades públicas insistirem no teatro do absurdo em que se transformaram as atitudes administrativas em geral (vide a gigantesca e casuística farsa da intervenção federal no Rio, palanque de salvação para um abraço de afogados políticos).

Mas vamos sair daqui. Viajemos para o resto do mundo, com uma escala numa Venezuela  (des) governada por um ridículo tirano (com licença, Caetano). Povo massacrado pelo desastre econômico e brutal censura política. Fome. Desgraça. Fuga.

Sigamos sobrevoando a maior potência mundial onde um governo que deveria  estar no divã segue aos rompantes em meio a massacres e repúdio ao avanço do pensamento.

Eis que atravessamos o Atlântico e pousamos no agora louvado “país da Copa”,  a partir do qual certamente serão irradiadas ondas de emoções que farão todos esquecerem que o presidente Putin segue se reelegendo sucessiva e pelo visto infinitamente, enquanto sanciona lei que autoriza maridos a espancarem esposas, reprime com mão de ferro as manifestações populares e a oposição e manda matar inimigos além fronteira, envenenando lhes, além de ordenar bombardeios na Síria dizimando crianças.

Sigamos para o Oriente e lá está a China, censurando a Internet e dando mandato eterno para seu governante.

Após mais uma mudança de rota, sobrevoamos a eterna e assustadora miséria da África.

E bandos de fanáticos religiosos massacrando gente.

Ufa! É isso aí o louvado século XXI? Por favor, quero ser o primeiro a chegar a Marte.

Artigo do jornalista Alex Ferraz