Ex-jogador e árbitro em ouro olímpico: quem é André Testa, treinador de vôlei condenado por estupro

Ex-jogador e árbitro em ouro olímpico: quem é André Testa, treinador de vôlei condenado por estupro

 

O técnico de vôlei André Wilson Testa foi condenado na segunda-feira, 25, a 60 anos de prisão após processo que apurava várias denúncias de estupro e abuso sexual contra jovens atletas de Santa Catarina.

Foto rede social 

 

Testa foi jogador e era considerado uma das grandes promessas catarinenses na modalidade. Ele ganhou também destaque como árbitro tendo como ponto alto da carreira a final olímpica entre Brasil e Itália, nos jogos do Rio, em 2016.

 

 

De acordo com a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina,  ele usava a confiança e admiração dos jogadores, além dos sonhos deles de se tornarem profissionais, para praticar os abusos sexuais.

60 anos em regime fechado

O réu, que pode recorrer em liberdade, foi condenado a 60 anos de prisão em regime fechado, três anos e nove meses em regime aberto e 100 dias-multa.

Os crimes pelos quais o treinador foi condenado são:

  • quatro condenações por estupro de vulnerável
  • uma por estupro
  • uma por constrangimento ilegal
  • fornecer, servir, ministrar e entregar bebida alcoólica para criança ou adolescente
  • submeter criança ou adolescente sob sua autoridade a vexame ou a constrangimento
  • induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga

 

Jovens estavam sob a responsabilidade do técnico de vôlei, com procurações dos pais ou responsáveis legais

Aos 25 anos na época, André foi juiz de linha naquela partida do Maracanãzinho, onde a seleção masculina conquistou o ouro e o tricampeonato olímpico. Seis anos depois, foi detido após uma série de denúncias, algumas delas desde 2017.

Os casos foram investigados pela Polícia Civil e a apuração ocorreu em segredo de Justiça. Ele foi preso preventivamente entre 5 de agosto de 2022 e 21 de janeiro de 2023, mas foi solto após a fase de coleta de provas. Na época, o Judiciário justificou a soltura pelo fato de André ser réu primário e não oferecer risco de fuga ou atrapalhar o levantamento de indícios.

Carreira

 

André atuava na Associação Terra Firme de São José, na Grande Florianópolis, que recebia dinheiro público da prefeitura. A administração do município afastou o treinador de todas as atividades desde que soube das denúncias.

Mesmo sendo árbitro, chegou a atuar na equipe adulta de vôlei de São José ao mesmo tempo em que treinava os jovens que disputaram os Jogos Escolares de Santa Catarina.

Coordenou também diversas competições a nível local e estadual e foi árbitro no Grand Prix da modalidade. Foi indicado pela Federação Catarinense para representar o estado na Rio 2016.

 

Relatos

As denúncias contra o treinador começaram no mês de maio de 2022. Uma das vítimas, atualmente maior de idade, procurou a Polícia Civil para relatar um abuso de 2017, quando tinha 15 anos. A identidade da vítima for preservada:

“Ele me levou para a casa dele e lá ele começou a passar a mão em mim essas coisas e tal. Enfim, eu não tinha malícia na época porque eu tinha muita confiança nele, era uma pessoa muito persuasiva, sabe, ele ganha muito a tua confiança e ele acabou abusando de mim”, relatou.

“Eu não estava, como eu posso dizer, eu não estava entendendo direito essa situação. Foi a minha primeira vez, eu era virgem na época”, completou.

Outro atleta, que também é maior de idade, conta que passou por uma situação muito parecida com o mesmo treinador e na mesma época.

“Ele foi comigo até um restaurante. Lá comprou bebida alcoólica, só que ele forçadamente ficava insistindo que eu tomasse bebida alcoólica, mesmo eu não querendo. E ele insistiu, insistiu, insistiu e eu acabei cedendo. E aí fiquei completamente bêbado naquele período ali. Na minha teoria, quando a gente foi para o carro, achei que a gente ia para a casa atleta dormir, no outro dia treinar. Só que aí ele tomou um rumo diferente, ele foi para o motel. Só que eu só tenho flash de memória, não tenho memória completa, por conta de estar muito bêbado. Não consegui resistir fisicamente. Ele só me levou para tomar um banho, me botou na cama pelado e me estuprou”, disse.

Outro atleta conta que não foi abusado, mas que o comportamento do treinador com os jovens chamava a atenção.

“Ele fazia umas brincadeirinhas, como se fosse bem íntimo, sabe. Ele passava a mão nos atletas, fazia umas brincadeirinhas sexuais com os atletas, deixava-os constrangidos. Eles ficavam sem jeito, sem reação. Não sabiam o que fazer porque eles o viam como o ‘cara’ né”, afirmou.

Ele conta também que os casos estariam ocorrendo há bastante tempo. “Vem fazendo isso já não é de agora. Já faz isso há muito tempo e, como ninguém teve coragem de falar, ele continua fazendo”.

O pai de um atleta conta que ouviu boatos sobre casos mais antigos e decidiu se aproximar dos adolescentes. Em pouco tempo, descobriu mais relatos em que menores de idade, já de outra geração, também foram abusados pelo mesmo treinador.

Um dos abusos teria ocorrido em uma “casa atleta”, usada para abrigar jovens de outras cidades e estados.

“A gente fica chocado, revoltado né, porque uma pessoa que está à frente de um projeto que atende crianças, que às vezes tem crianças carentes, que tem problemas sociais, de família, e busca no esporte algo para descontrair, para ser algo prazeroso e tem um acontecimento desse”, lamentou.

Em um trecho de uma conversa por mensagens entre duas vítimas, menores de idade, uma delas afirma que não denunciou para não dar problema para o time e não destruir o sonho dos outros jovens.

 

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