Tragédia da Boite Kiss vira série e país querem processar Netflix
O incêndio na Boite “Kiss”completou dez anos na última sexta, 28. Considerada uma das piores tragédias do Brasil vitimou 242 jovens e mais de 600 feridos virou tema da mais nova série da Netflix e estreou dia 25, para os assinantes da plataforma.
“Todo dia a mesma noite” tem cinco episódios com participação dos atores Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros e Debora Lamm, além de nomes como Paola Antonini, modelo e influenciadora brasileira que perdeu a perna em um acidente de carro.
A série tem a consultoria da jornalista e escritora Daniela Arbex, autora do livro “Todo Dia a Mesma Noite: A História não Contada da Boate Kiss”, que inspirou a produção.
O anúncio pela Netflix pegou a todos de surpresa, em especial os pais das vítimas, que querem evitar a publicidade do drama que passam até hoje. “Nós fomos pegos de surpresa, ninguém nos avisou, ninguém nos pediu permissão”, disse o empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes, coordenador do grupo de pais, ao jornal gaúcho Zero Hora. Ele perdeu a filha Évelin Costa Lopes, de 19 anos, na tragédia.
“Nós queremos saber quem está lucrando com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos”, acrescentou.
Ao todo, mais de 40 pais se juntaram para tomar uma medida contra a plataforma, em protesto contra a transformação da tragédia em entretenimento.
Segundo a advogada da causa, Juliane Muller Korb, as famílias não são contra documentários (como a Globoplay também lançou na semana) ou obras jornalísticas, mas se opõem à forma como a Netflix lidou com a história. “A comercialização da tragédia incomodou muitos. A morte de pessoas vai gerar lucro à Netflix”, disse a representante à imprensa.
Segundo ela, alguns pais voltaram a ter crise de ansiedade e de pânico só por ver o trailer sendo exibido na televisão.
A série é baseada no livro de mesmo nome, escrito pela jornalista Daniela Arbex, e mistura realidade e ficção ao acompanhar a história de quatro familiares específicos, todos interpretados por atores.
Curiosamente, o protesto dos 40 pais não conta com apoio da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, criada para representar todas as vítimas do incêndio em 2013. Essa associação emitiu uma nota defendendo a série.
“A produção não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância. Além disso, reiteremos que não estamos movendo nenhum processo contra as produções, nem pretendemos, por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória”, diz o comunicado da entidade.
Atualização do caso
Em dezembro de 2022, quatro pessoas foram condenadas pelo desastre de Santa Maria. Após um show pirotécnico, chamas atingiram parte do teto e se alastraram pela boate, provocando muita fumaça tóxica. A Boite Kiss só dispunha de uma porta de saída.
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