Mais um escândalo na Igreja Católica: em dez anos Padre Robson desviou 2 bilhões e setecentos milhões
A Igreja Católica no Brasil se vê envolvida mais uma vez em um escândalo de dinheiro, sexo e extorsão. O caso do Padre Robson de Oliveira, 46, que atuava a frente da Basílica do Pai Eterno, em Trindade, Minas Gerais, chama ainda mais atenção pelos contornos escabrosos.
Segundo Ministério Público de Goiás, Robson movimentou, só nos anos de 2008 a 2018, 2 bilhões de reais, oriundos de doações dos fiéis. Ele é acusado de liderar organização criminosa e de desviar R$ 60 milhões para a compra de casas, fazendas, terrenos e até avião. As doações são feitas pelo site, pelo telefone e, principalmente, pelo pagamento de boletos enviados pelo correio para todo o país.
Uma das propriedades do padre fica em Guarajuba, litoral baiano, adquirida em 2014 por R$ 2 milhões e paga à vista. A aquisição foi feita pela Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), criada e presidida pelo padre Robson. A compra foi efetuada de uma empresa chamada Sistema Alpha de Comunicação, que também é investigada.
Além da casa de praia, uma chácara com casa de paredes de vidro com vistas para o jardim, uma piscina aquecida e um ofurô também teria sido comprada com dinheiro doado por fiéis para a Afipe. A propriedade foi alvo de busca e apreensão realizada na manhã desta sexta-feira, 21. O MP chegou a pedir a prisão preventiva do padre, mas o pedido foi negado pela juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais.
“As contas bancárias da Afipe foram usadas para comprar fazendas, residências em condomínio fechado, apartamentos em São Paulo e Goiânia, fazendas em todo o Brasil, mineração. Quer dizer, a Afipe é hoje uma grande empresa. Ela tem o argumento religioso mas se converteu em uma grande empresa no Estado de Goiás que explora inúmeras atividades, agropecuária e mineração, compra inúmeros imóveis e vende inúmeros imóveis”, disse o promotor Sebastião Marcos Martins, coordenador da investigação.
O MP foi para as ruas de Trindade, Goiânia e São Paulo em uma grande operação. Promotores foram até a casa do padre Robson e mais 15 endereços de pessoas físicas e empresas para cumprir mandados de busca e apreensão. A casa que o padre usa muito, tem banheira de hidromassagem, piscina aquecida na área interna e banheiro de mármore. A casa é da Afipe.
Em nota, a Arquidiocese de Goiânia e a Província dos Missionários Redentoristas de Goiás — a congregação do padre — dizem que recebem com surpresa e aceita com humildade os atos praticados pela autoridade judiciária do estado de Goiás. A nota diz que as duas instituições estão abertas para apurar, com transparência, quaisquer denúncias em desfavor de seus membros. Diz também que elas confiam no trabalho evangelizador de cada um de seus sacerdotes e que querem o esclarecimento de todos os fatos.
Contas nas Associações criadas pelo padre Robson
Somente nos últimos três anos, a Afipe movimentou R$ 120 milhões. Desse montante, o Judiciário sustenta que até o momento pode-se afirmar que R$ 60 milhões foram desviados dos cofres da Afipe. A entidade foi criada para manter as atividades da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, município localizado a 23 km de Goiânia. As informações constam na decisão que autorizou a realização de busca e apreensão em endereços ligados ao padre nesta sexta-feira, 21.
Sucesso em missas até no exterior
Sucesso de mídia, Robson De Oliveira cuidava de uma das paróquias mais populares da igreja no Brasil. Todos os anos, desde o século 19, Trindade recebe romeiros de todo o Brasil, na celebração da festa do Divino Pai Eterno – no ano passado, a festa recebeu 3 milhões de fiéis. Padre Robson de Oliveira era o organizador do grande evento. Ele é acostumado a rodar o Brasil pregando para fiés e leva multidões. a suas missas.
Com missas realizadas no local transmitidas ao vivo pela Rede Vida, o trabalho do padre Robson passou a repercutir no Brasil e no exterior. O pároco chegou a celebrar missa em eventos como a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos e realizou a Novena dos Filhos do Pai Eterno em países como Israel, Portugal, Espanha, Itália, México e França.
“Operação Vendalhões”
Batizada de “Vendilhões”, a operação investiga crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, sonegação fiscal e associação criminosa. Ao todo, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em locais como chácaras, casas e a sede da Afipe. A juíza Placidina Pires também determinou o bloqueio de valores da Afipe até o limite de R$ 60 milhões, por meio do sequestro de bens imóveis ou o bloqueio de valores em conta.
As investigações começaram depois que o padre Robson foi vítima de extorsão, em 2017 e teve computador e celular hackeados. Ele passou sofrer chantagem “para que não divulgassem imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais, amorosas e profissionais que levassem a prejudicar sua imagem”. Na ocasião, o padre transferiu mais de R$ 2 milhões das contas bancárias da Afipe para os criminosos. A quadrilha foi condenada em 2019, mas o uso do dinheiro da fundação para fins pessoais ligou o sinal de alerta das autoridades. O MP afirma que Robson apropriou-se de valores arrecadados dos fiéis e utilizou para finalidades diversas daquelas desenvolvidas pela entidade.
A partir, desse caso, o MP foi mais fundo para descobrir a origem dessa transação. Foram quase três anos de investigação para rastrear e entender mais de 1.200 transações de compra e venda de imóveis, além de transferências, depósitos e saques milionários. Segundo os investigadores, os valores movimentados, não só pela Afipe – Associação do pai Eterno, mas por todos os envolvidos na investigação, podem ser maiores do que R$ 2 bilhões.
Depois de criar esta primeira associação, o padre ainda criou mais duas. . O Gaeco, Grupo de Combate à Corrupção do Ministério Público de Goiás, levantou todas as transações financeiras das associações nos últimos 10 anos: negociações difíceis de entender até para os investigadores.
Biografia do Padre Robson
Nascido e criado em Trindade, padre Robson morou na Irlanda e fez mestrado em Teologia Moral na Universidade do Vaticano, em Roma. Ele retornou ao Brasil no ano de 2003, quando assumiu a reitoria do Santuário do Divino Pai Eterno. Uma de suas primeiras ações como reitor foi pedir ao Vaticano o título de Basílica.
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