Rivalidade, competição e maioria brancas. As rainhas de bateria das escolas de samba que roubam a cena no Carnaval do Brasil
O Brasil é o país das grandes escolas de samba, tradição que se perpetua desde 1929, quando ocorreu o primeiro concurso de sambas, entre a Deixa Falar, o Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz e o bloco Estação Primeira, que mais tarde dariam origem à Portela e à Mangueira, respectivamente. Idealizado pelo mangueirense Zé Espinguela, o certame foi precursor da competição que surgiria entre as escolas e teve como vencedor o pessoal de Oswaldo Cruz. Nesse tempo, os blocos/escolas desfilavam durante o carnaval pelas ruas próximas a suas sedes e na região da Praça Onze.
Mas, foi em 1932, que o jornal Mundo Sportivo, dirigido por Mário Filho, decidiu organizar o primeiro desfile competitivo das escolas de samba. A divulgação do evento pela imprensa ajudou a atrair um grande número de curiosos, que assistiu a 19 escolas passarem pela Praça Onze no dia 7 de fevereiro, domingo de carnaval. Os jurados elegeram a Mangueira como campeã.
De lá para cá, os desfiles são apoteóticos, ricos e compostos por Alas e em sua maioria patrocinados pelo jogo do bicho e cada vez mais populares e transmitidos ao mundo por milhares de canais de tv e pela internet.
Como surgiu o personagem “Rainha da Bateria”
Segundo alguns historiadores do Carnaval, a rainha de bateria surgiu na década de 70, quando a mulata “Adele Fátima”, desfilou a frente da bateria da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, mas até aí não a sambista não levava o nome de “Rainha”. Monique Evans, modelo famosa dos anos 80 recebeu o título de “Rainha da bateria”, ao desfilar em 1985, a frente da bateria da mesma escola. Ela ganhou fama internacional, estampou revistas e foi destaque no Carnaval desse ano.
Depois disso, todas as escolas seguiram o modelo e as Rainhas de Bateria, foram surgindo, uma a uma, seja oriundas das comunidades de origem das escolas, sejam vindas da tv, da moda, ou simplesmente por pagarem somas importantes para terem esse destacado lugar no desfile.
Carnavalescos afirmam que a ideia de colocar essas mulheres à frente das escolas de samba surgiu para que elas auxiliassem o mestre de bateria no comando da ala de percussão, atraindo a atenção do público levando mais animação para os instrumentistas, puxando o samba, para não deixar o ritmo cair.
Vale ressaltar que a ” rainha de bateria” não é um quesito avaliado individualmente, ela se encaixa na categoria de alegorias e adereços. Para a avaliação é levada em conta a fantasia, o seu desempenho durante todo o desfile ou se realmente ela comandou a percussão e se despertou animação nos integrantes.
Pandemia e Carnaval 2022
Devido a pandemia da Covid-19, os anos de 2020 e 2021 ficaram sem o brilho do Carnaval no país. Passado o pico da pandemia, com a maioria da população vacinada, a nova data é de 20 a 24 de abril, nas principais capitais do país, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo, onde ocorrem os desfiles das escolas de samba, com premiações e forte apelo popular.
Cada vez mais brancas a frente das baterias das Escolas de Samba
As mulheres brancas são maioria entre as rainhas de bateria das escolas de samba do Grupo Especial de 2022, de São Paulo e do Rio de Janeiro, conforme apurado pela Alma Preta Jornalismo. O estudo foi feito entres 14 escolas, incluindo 13 rainhas de bateria e três musas da Águia de Ouro, Dessas, 8 são mulheres brancas, 7 são negras e 1 é amarela.
Se as musas, que substituíram o título de rainha de bateria na Águia de Ouro, não fossem consideradas no levantamento, as mulheres brancas ainda teriam maior protagonismo entre as rainhas do carnaval. Seriam 7 rainhas brancas, 5 negras e 1 amarela.
Quem são as mais famosas Rainhas do Carnaval?
Eloína – Travesti e atriz
Eloína ainda não era “Dos Leopardos” quando inaugurou uma posição que seria para sempre de glória no carnaval brasileiro. O ano era 1976. Ela havia acabado de voltar de viagem com os seios que colocara em Hong Kong – “Ainda hoje a parte mais bonita do meu corpo”–, e as pernas que, na época, abalavam Paris. Joãozinho Trinta, que estreava como carnavalesco da Beija-Flor, a convidou para ser a primeira rainha da bateria de que se tem notícia. Eloína se provou pé quente: a escola foi a campeã daquele ano – e dos dois subsequentes. “O prefeito do Rio, Marcos Tamoio, me disse que eu era a mulher mais bonita da avenida.Quase caiu quando soube que eu era um travesti.” Eloína nasceu Edson, foi criada pela madrinha no Catumbi, região central do Rio de Janeiro. “Aos 7 anos, eu já era da pá virada, gostava de brinco, de batom. As pessoas alertavam minha madrinha: ‘Jacira, esse menino não vai dar boa coisa.’ Ela me apoiava.”
Andréa Capitulino tem 37 anos de idade, 11 como empreendedora e 9 como musa fitness. Dona de clinica de estética, ela já se dedicou muito para chegar onde chegou. E não foi à toa. Hoje, a carioca faz carreira também nos carnavais.
Morou entre as quadras do Salgueiro, Mangueira, Vila Isabel e Tijuca, desfilará em São Paulo, pela primeira vez. Andréa foi coroada no dia 6 de agosto de 2016, como Rainha de Bateria da agremiação para 2017. É bi-campeã (2018/2019) do carnaval, o que lhe rendeu o apelido de Rainha Pé Quente e para 2019 promete esbanjar ainda mais sensualidade e criatividade no sambódromo do Anhembi.
Karine Grum – modelo
É a nova rainha da bateria da escola Dragão da Real. Ela assume o espaço deixado por Simone Sampaio, que esteve a frente da bateria por nove carnavais consecutivos. Faz parte da agremiação há 18 anos, tem 29 anos. Desfila desde 2004, ainda quando era criança.
Pâmella Gomes – bailarina do programa do Faustão
Passando pela avenida desde os três anos de idade, a bailarina, natural de Osasco, não se limitou a São Paulo e nos últimos anos também ocupa o posto de Musa da Imperatriz Leopoldinense, no Rio de Janeiro. Aos 28 anos, muitos deles à frente da bateria, ela promete uma Pâmella diferente em 2020. Toda essa paixão pela festa popular tem explicação. A raiz vem de família. Os pais são o primeiro casal de Mestre-sala e Porta-bandeira da Tom Maior; o irmão, os tios, primos e a avó também desfilam ao lado da musa.