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Papa Francisco demite padre Pedro Leandro Ricardo por abuso sexual de ex-coroinhas

O papa Francisco decidiu aplicar a pena de demissão ao padre Pedro Leandro Ricardo, de Americana (SP), devido a denúncias de abuso sexual. Conforme comunicado emitido pela Diocese de Limeira, a ação ocorreu após abertura de procedimento interno, que apurou a conduta do ex-sacerdote depois de queixas de ex-coroinhas.

De acordo com o comunicado divulgado pela Diocese de Limeira na sexta-feira (11), Pedro Leandro Ricardo, já tratado com o pronome “senhor” e não padre, assim que notificado, “não poderá mais exercer, válida e licitamente, o ministério sacerdotal”. A nota é assinada pelo bispo Diocesano de Limeira, dom José Roberto Fortes de Palau.

Ricardo, que atuava como reitor da Basílica de Santo Antônio, em Americana, já havia sido afastado da paróquia por tempo indeterminado.

A reportagem não conseguiu confirmar com a Diocese de Limeira se Pedro Leandro Ricardo já foi notificado da demissão. Ele também não foi localizado para comentar sobre sua demissão da igreja.
Ao site G1 Ricardo se disse “totalmente surpreso” com a demissão da igreja católica e afirmou que está sendo perseguido pela Diocese de Limeira, sem possibilidade de defesa. Ele declarou que pretende entrar com recurso contra a decisão.

Casos

Ao menos quatro ex-coroinhas o denunciaram por suposto assédio sexual quando eles eram menores de idade e o auxiliavam na missa. A denúncia se tornou pública no início de 2019. Seis ex-coroinhas que acusam o padre brasileiro Pedro Leandro Ricardo de abuso e assédio sexual cobram da Igreja Católica indenizações que somam US$ 3 milhões, o equivalente a R$ 11,2 milhões. O pedido se baseia em um decreto assinado em maio passado pelo papa Francisco que torna obrigatório para o clero denunciar suspeitas de crimes sexuais às autoridades eclesiásticas e prevê reparações para vítimas.

Relatos dos abusos

O grupo que denuncia o padre Leandro é formado por três homens, duas transexuais e uma mulher. Algumas das vítimas revelaram detalhes das acusações em reportagem publicada pela revista Veja nesta semana.

“Era coroinha e andava de carro com o padre Pedro Leandro Ricardo para os trabalhos da igreja. […] Em um sábado, convidou-me para dormir na casa paroquial porque iríamos celebrar missa no domingo. Fiquei sozinho com ele. O padre perguntava se eu tinha namorada, se eu era virgem… No meio da conversa, abriu um vinho e pediu que eu bebesse. Eu tinha 17 anos. […] Depois, foi ao banho. Quando voltou, vestia apenas uma cueca samba-canção. O pênis estava ereto, marcando o tecido. Veio em direção ao sofá, começou a se masturbar e pediu que eu fizesse sexo oral nele. Mesmo com a minha recusa, começou a acariciar meu pênis. Fiquei em choque e me levantei. Não fizemos nada”, disse à Veja Ednan Aparecido Vieira, hoje com 35 anos.

“O padre Pedro Leandro Ricardo me olhava de forma diferente. Eu tinha 16 anos, quando ainda não me entendia como uma mulher transexual. Como meu pai havia morrido, achava que o pároco tinha carinho por mim. Ele começou a ficar ao meu lado enquanto eu vestia a túnica de coroinha. Depois, passou a me ajudar com as vestes para tocar o meu corpo, com a desculpa de desamassar o tecido. Um dia, abriu as minhas pernas e segurou as minhas coxas. Dei um berro na sacristia e saí correndo. […] Após o episódio, Leandro me tirou das atividades da igreja”, contou Paula Vallentin, 25.

Investigações desde 2019

O padre havia sido afastado da função eclesiástica em janeiro daquele ano, após reportagem da Folha revelar que ele estava sob investigação do Ministério Público por suposto envolvimento com meninos que lhe tinham como guia na basílica de Americana. Paralelamente à apuração da Promotoria, se iniciou a investigação canônica, sob ordenamento da igreja. As investigações que tramitam na Justiça seguem sob sigilo.

Os ex-coroinhas contaram que tinham entre 11 e 17 anos quando o suposto assédio aconteceu. Narram que o contato sexual com o padre foi o primeiro de suas vidas – os relatos variam de “escorregadas de mão” a “felação”.

Em entrevista para a Folha publicada em fevereiro daquele ano, a advogada Talitha Camargo da Fonseca, que representava os quatro homens que disseram ter sido assediados por Ricardo na adolescência, contou que eles tinham deixado de seguir a religião.

 

POR: Rita Moraes
Publicado em 13/03/2022