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Musical Lazarus, de David Bowie ganha versão nacional e estreia dia 23, em São Paulo

Um dos musicais mais aguardados do ano, Lazarus impressiona pelas mensagens cuidadosamente deixadas nas entrelinhas por seu autor, David Bowie, que o finalizou em seu último ano de vida. Afinal, trata-se de uma obra que reflete o estado de espírito de um artista lutando entre o momento de estar vivo e a iminência de deixar tudo para trás. “Lazarus, entre outros assuntos, trata de morte e ressurreição”, comenta Felipe Hirsch, diretor da versão nacional que estreia na sexta-feira, 23, inaugurando um novo espaço, o Teatro Unimed.

De fato, até 10 de janeiro de 2016, quando o mundo foi surpreendido pela notícia de sua morte, em decorrência de um câncer de fígado, Bowie, que completara 60 anos dois dias antes, trabalhou cuidadosamente no álbum Blackstar e no musical Lazarus. E, em ambos, a finitude é um tema que permeia várias letras. “Mas Bowie não traz isso de forma simples, evidente. Seu trabalho tornou-se clássico porque ele nunca refletia diretamente sobre o que se passava com o mundo naquele momento da criação – ele tinha a capacidade de selecionar as ideias que estavam fora do mainstream e que, muitas vezes, só iríamos entender o significado anos depois”, observa Hirsch. “Por isso, Lazarus é mais um convite a uma navegação sensorial que simplesmente uma peça com enredo e música.”

Escrito por Bowie e pelo dramaturgo irlandês Enda Walsh, o espetáculo se inspira no romance O Homem que Caiu na Terra, publicado por Walter Tevis em 1963, cuja versão para o cinema, rodada em 1976, teve o cantor como protagonista. Trata-se da vida atormentada de Thomas Jerome Newton, um alienígena que viaja para a Terra para salvar seu planeta, ameaçado pela falta de água. Na verdade, no palco, Newton é um ser alcoólatra, sem objetivo e incapaz de modificar sua terrível situação: imortal e incapaz de deixar a Terra. “Bowie vivia essa situação intermediária, buscando se encontrar em vez de simplesmente se deixar ir”, explica Hirsch. “Acredito que Walsh veio para ajudar a organizar essas ideias.”

Com total liberdade para reorganizar o original (condição essencial, aliás, para aceitar o convite feito pela Dueto Produções, de Monique Gardenberg), o encenador buscou um caminho distinto das montagens de Londres e Nova York. “Fui mais fiel ao livro de Tevis, que busca descobrir a origem de sua existência.”

Para isso, contou com a ajuda de colaboradores fiéis ao seu pensamento. Assim, para a direção musical, ele convidou Maria Beraldo e Mariá Portugal, hábeis em criar sonoridades a partir da voz e de instrumentos. As canções, assim, fazem uma interessante costura com o tom ligeiramente onírico da trama. “O trabalho delas traz uma transcendência, alcançando o espírito das músicas de Bowie”, confia o encenador.

Já Daniela Thomas e Felipe Tassara criaram novamente um cenário instigante, em que o palco se movimenta, formando pequenos declives que auxiliam para mostrar o estado de espírito dos personagens. Com a presença de um enorme espelho atrás, que também se movimenta, Hirsch criou cenas de puro ilusionismo, dignas do canadense Robert Lepage, graças ainda às projeções que identificam o cenário.

E a trilha traz 18 canções especialmente escolhidas por Bowie, como Life on Mars, Valentine’s Day e Changes. Destaque para as três que foram escritas especialmente para o musical: No Plan, Killing a Little Time e When I Meet You. Hirsch refletiu e, ainda que Bowie preferisse o contrário, manteve uma versão de Heroes no final, como nas outras montagens.

Serviço:

Teatro Unimed: Alameda Santos, 2159 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01418-200

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fonte: Revista IstoÉ

POR: Rita Moraes
Publicado em 20/08/2019