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Morre Dom Pedro Casaldáliga, defensor dos Índios e da democracia no Brasil

Em meio as 100 mil mortes, somente causadas pelo Coronavírus, o Brasil lamenta a morte de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, Moto Grosso. Após longa internação, o sacerdote faleceu no sábado, 8, às 9h40. Ele estava internado com insuficiência respiratória na Santa Casa de Batatais (SP). Aos 92 anos, o religioso sofria há cerca de 15 anos do mal de Parkinson.

A notícia foi dada em nota conjunta assinada pela Prelazia de São Félix, a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos, congregação à qual ele pertencia) e pela Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos).

Serão várias celebrações do corpo presente de Dom Pedro. Na Claretiano – Centro Universitário de Batatais, com  L missa de exéquias, aberta ao público, na tarde de amanhã e online. Na segunda-feira, 10, o bispo receberá homenagens em Ribeirão Cascalheira, em Mato Grosso, onde será velado no Santuário dos Mártires, imediatamente a partir de sua chegada. Por fim, sem previsão de horário ainda definida, o cotejo segue para São Félix, onde o religioso será sepultado, após também ser velado, no Centro Comunitário Tia Irene.

No Brasil desde 1968

Pere Casaldáliga i Pla , seu nome de batismo, nasceu em 16 de fevereiro de 1928, na cidade catalã de Balsareny, província de Barcelona. À beira do rio Llobregat, como descreveu a jornalista e biógrafa Ana Helena Tavares, com família de camponeses que sobrevivia comercializando leite de vaca. Em texto escrito aos 8 anos, considerou a Guerra Civil Espanhola uma “escola superior” de jornalismo.

Já com passagem pela África (Guiné Equatorial), o religioso desembarcou no Brasil em 26 de janeiro de 1968. Fez um curso preparatório em Petrópolis (RJ). Depois, morou um mês e meio em São Paulo, “visitando hospitais e estudando doenças tropicais, muitas das quais viria a contrair”, como escreveu Ana Helena.

De Rio Claro, no interior paulista, viajou sete dias de caminhão até chegar a São Félix, em 30 de julho de 1968, parar criar uma missão. Na primeira semana, conta a biógrafa, quatro crianças mortas foram deixas na porta de sua casa, em caixas de sapato – foi o primeiro contato com a dura realidade local. Em maio de 1969, Papa Paulo VI criou a Prelazia de São Félix, da qual Pedro foi o primeiro administrador apostólico.

Luta contra o latifúndio

Sobre Casaldáliga, o padre Paulo Gabriel López Blanco resumiu: “Pedro, na região, é amado e odiado, lhe atribuem milagres que nunca fez e lhe atribuem pecados que nunca cometeu”. Para ele, sem a presença da Prelazia e de Pedro na região, “aquilo hoje era única e exclusivamente pasto do latifúndio”.

Em 1987, o líder ruralista Ronaldo Caiado, hoje governador de Goiás, declarou, segundo registro do jornal O Estado de S. Paulo: “Para nós, produtores rurais, governo democrático é aquele que faz o que nós queremos e até impomos, não aquele que quer nos ditar normas”.

Casaldáliga respondeu, em seu diário:

Evidentemente esse “nós” são eles e somente eles, os proprietários, os privilegiados. Democracia, portanto, para os neoliberais ou neocapitalistas não tem nada a ver com a imensa maioria popular. O povo fica fora dessa democracia. O sonhado “governo do povo pelo povo” passa a ser um governo contra o povo. Que o Senhor nos livre de todas essas democracias!

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POR: Rita Moraes
Publicado em 09/08/2020