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Uma relação esdrúxula. Artigo do jornalista Alex Ferraz

Por força da profissão, acompanho  praticamente todos os noticiários da mídia, notadamente  TV e rádio.
Salvo raríssimas exceções, noto uma relação um tanto estranha entre apresentadores e órgãos públicos.
Explico: tomemos como exemplo uma queixa da população contra um esgoto estourado ou lixo não recolhido. A reportagem é apresentada, o povo fala, o apresentador comenta, e, como manda o ritual clássico do jornalismo, o “outro lado” é ouvido.
Até aí, vá lá.
 
Porém, assim que o órgão público responde prometendo corrigir o problema, o apresentador não raro se derrama em agradecimentos, pois “o pedido” foi atendido.
 
Analisemos: em primeiro lugar, a seguir à risca a obrigação dos órgãos públicos, cujos chefes, chefinhos, funcionários em geral têm seus salários pagos por nós, cidadãos comuns, não deveria ser necessário a população rogar para que o poder púbico cumpra sua OBRIGAÇÃO.
 
Prefeituras, governos estaduais e governo central, em teoria, são ocupados por eleitos (que, por sua vez, escolhem auxiliares) cuja função deveria ser cuidar responsavelmente das ações que lhes dizem respeito para o bom funcionamento da sociedade e bem estar dos cidadãos. 
 
A ruas têm que estar sem buracos, bem iluminadas e livres de esgotos a céu aberto e alagamentos; a cidade NÃO PODE, sob qualquer hipótese, estar cheia de lixo ou entulhos, tampouco sem a presença de agentes de trânsito de forma sistemática nos pontos cruciais.
 
A cidade, o estado e o país não deveriam torturar seus cidadãos (leia-se, eleitores) negando-lhes segurança, saúde pública, transporte decente e educação.
 
Cumprir suas obrigações para com a sociedade, de forma séria e eficaz, deveria ser a meta única do chamado poder público, inclusive com a indispensável fiscalização para evitar que alguns cidadãos assumam atitudes que atentem para a ordem normal do bem estar coletivo.
 
Portanto, não há o que agradecer quando esses poderes taparem um buraco, reformarem uma escola, inaugurarem um hospital, asfaltarem uma estrada, punirem uma empresa que causa uma catástrofe ecológica ou ludibria consumidores, enfim.
 
Os governantes, em todos os níveis, no Brasil, fazem da sua OBRIGAÇÃO uma espécie de “favor” à população e transformam a execução de obras ou a tomada de atitudes outras que fazem parte da sua estrita responsabilidade, inerente ao cargo, em festas, comemorações, sempre com aquele ar de quem está dando um “presente”. 
 
Tremenda distorção da função do poder público. E o pior é que no mais das vezes as demandas da população ficam sem atendimento ou são tratadas de forma altamente precária.
 
Costumo dizer, e insisto: prefeitos, vereadores, governadores, parlamentares são nossos EMPREGADOS.
Pelo menos é assim que se convenciona chamar àqueles  que recebem pagamento para prestar serviços a quem lhes paga.
 
Temos que cobrar, sim. Mas não agradecer. E muito menos festejar obras e ações que devem ser rotina de trabalho para as chamadas autoridades públicas. Deveríamos encarar como uma simples rotina. Simples assim.
Artigo do jornalista Alex Ferraz.
POR: Rita Moraes
Publicado em 02/08/2018