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Tudo segue como dantes. Artigo do jornalista Alex Ferraz

Começo esse artigo recomendando, ou melhor, rogando aos leitores que assistam ao filme “Cronicamente Inviável”, de Sérgio Bianchi, brasileiro, lançado no ano 2000 mas que permanece cronicamente atual.
 
Para melhor entendimento, transcrevo trechos das críticas:
“Um Brasil caótico e hipócrita é o retrato pintado por Sérgio Bianchi em ‘Cronicamente inviável’. Um Brasil nojento em que ninguém se salva de sua culpa, onde as relações de opressor e oprimido estão expostas a toda prova.”(Fonte: Tela Crítica).
 
Pode parecer a princípio uma crítica à “realidade social” e  crença de que ela possa ser mudada. Mas “Cronicamente Inviável”, a partir do próprio título, não parece ter essa esperança. A denúncia do filme é sobretudo moral.
Diz ainda a crítica: “A dondoca atropela um menor de rua. Sai do carro e nem se preocupa em ver se o menino está vivo ou morto: organiza apenas um discurso para dizer que não teve culpa de nada. A cena se repete, com outra dondoca, mais adiante no filme. E quase todos os personagens, na verdade, estão às voltas com o mesmo problema: o de livrar-se de qualquer responsabilidade pelos horrores que acontecem no país.
Crítica à burguesia? Novamente, o filme de Sérgio Bianchi puxa o tapete do espectador. Pois as ‘classes populares’ não inspiram nenhum discurso otimista. O policial, a gerente que teve infância pobre, o líder sem-terra parecem detestar, tanto quanto os ricos, a classe de que se originam. Só parece haver solidariedade na opressão.” (Crítica da Folha de S. Paulo).
 
Brasil hoje, 18 anos depois mas ainda sem chegar à adolescência moral.
Até cerca de três meses atrás a mídia, em todas as suas modalidades, fervilhava dia e noite  com denúncias espantosas que colocavam políticos e governantes na lixeira da corrupção. Parecia não escapar ninguém, nenhum partido, nenhuma “ideologia”.
 
Chegava ao máximo a sensação de que o rolo compressor da Lava Jato, após muitas prisões e tenebrosas revelações, finalmente iniciara um processo irreversivel para moralizar o país.
 
Mas veio a Copa do Mundo e enquanto Neymar caía e rolava em gramados russos, aqui políticos e mesmo alguns juízes articulavam o travamento do processo de saneamento da política corrupta.
 
E parece que acertaram na mosca, pois hoje os principais candidatos à presidência nada mais são do que aqueles que há décadas vêm participando desta política enlameada, sendo que a maioria não só foi denunciada por atos de grossa corrupção, como o principal deles jacta-se de ter obtido o apoio do tal Centrão, composto, por sua vez, na sua maioria, por políticos investigados ou mesmo processados por falcatruas envolvendo o assalto ao erário.
Ou seja, de repente tudo como dantes no quartel (opa!) de Abrantes.
 
Como sempre alienada e por demais preocupada em sobreviver a balas perdidas, assaltos a ônibus, filas hospitalares e um ridículo salário, além de ter que se preocupar também com as baboseiras milionárias  dos eternos Ba-Vis e congêneres desta pátria de chuteiras, a grande maioria da população (eleitores forçados) segue viajando nesta maionese botulínica, estragada há muito tempo. 
 
E a chamada grande mídia, num estalar de dedos, engavetou solenemente as grandes denúncias que tantas espetaculares manchetes lhes renderam ao longo dos últimos quatro anos.
 
Fecharam-se as  cortinas do palco e a platéia deixou o teatro. Voltou para a realidade cruel, aparentemente de uma inviabilidade crônica.
 
E logo estaremos a ver os fantasmas vivos de um passado que insiste em permanecer presente mostrarem  caras lavadas na TV, prometendo “geração de emprego, saúde e segurança”. Trágico.
Artigo do jornalista Alex Ferraz.
 
POR: Rita Moraes
Publicado em 31/07/2018